BIOGRAFIA DO APÓSTOLO PEDRO * Simão, o pescador de peixes; Pedro, o pescador de homens **

25/11/2013 22:09

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A vida de Pedro é um exemplo de que não basta fazer companhia a Cristo, mas é preciso haver uma conversão para a mudança do caráter.

 

INTRODUÇÃO

 

- Na seqüência da análise de vidas de personagens bíblicas para o aprimoramento do nosso caráter cristão, estudaremos a segunda personagem do Novo Testamento – o apóstolo Pedro.

- O ilustre comentarista quis realçar, na vida de Pedro, a sinceridade e o dinamismo, características indispensáveis para que sirvamos a Deus até a volta do Senhor.

 

I – A BIOGRAFIA DE PEDRO (I) – SIMÃO, O PESCADOR DE PEIXES QUE SE TORNOU OUVINTE DE CRISTO

 

- Nesta lição, estudaremos a segunda personagem do Novo Testamento, o apóstolo Pedro, um dos doze, que tem proeminência na narrativa dos Evangelhos e na primeira parte do livro de Atos dos Apóstolos e que é, sem dúvida, um grande exemplo da mudança de caráter que Jesus faz na vida de todos quantos O aceitam como Senhor e Salvador de suas vidas.

 

- Pedro surge, pela vez primeira, nas Escrituras Sagradas, em Mt.4:18, quando nos é informado que seu nome era “Simão”, forma diminutiva de “Simeão” (em hebraico, “Shimon”), cujo significado é “Deus ouviu”, nome, aliás, do segundo filho de Jacó e Lia (ou Léia), onde se dá a explicação do significado deste nome (Gn.29:33).

 

 

- Simão era filho de Jonas, por isso chamado de “Barjonas”, palavra que, em aramaico, significa “filho de Jonas” (Mt.16:17), tendo tido o seu nome mudado por Jesus para “Pedro” (Mc.3:16; Jo.1:42), que significa “pedregulho”, “pedra pequena”, mesmo significado da palavra “Cefas” (Jo.1:42; I Co.15:5 e Gl.2:9), que é a versão aramaica do nome “Pedro”, que é grego. Jonas, seu pai, deveria ser um pescador. Como bem explica o pastor Osmar José da Silva, “…os filhos de Jonas, André e Pedro, trabalhavam na pescaria com o pai, embora tudo leva a crer que Simão tinha o seu barco próprio. A pesca era um dos negócios rentáveis naqueles dias; possuir barcos e redes para a indústria pesqueira não era para pessoas pobres e, portanto, estes homens eram considerados classe média alta; possuidores de suas casas próprias e viviam bem, para os padrões da época. A indústria da pesca era uma das mais importantes naqueles dias…” (Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade (São Paulo:s.e., 2001), v.6, p.22-3).

 

- Simão, como seu irmão André, era de Betsaida (Jo.1:44), cidade cujo nome significa “casa de pesca” ou “casa do pescador”, a revelar, portanto, a própria vocação da cidade, cidade esta que ficava à margem nordeste do mar da Galiléia, situada perto de Cafarnaum, onde Pedro foi morar, pois ali era a sua casa (Mt.8:13,14). Era casado, tanto que, já quando estava a pregar o Evangelho, se fazia acompanhar de sua mulher (I Co.9:5), além do que um dos primeiros milagres de Jesus, em Seu ministério público, foi o de curar a sogra de Pedro.

 

- O irmão de Simão, André, era discípulo de João Batista (Jo.1:37,40) e, quando este testificou que Jesus era o Messias, imediatamente passou a segui-lO, tendo, então, ido ao encontro de seu irmão Pedro e lhe falado a respeito de Jesus, oportunidade em que o Senhor lhe mudou o nome. Isto nos revela que Pedro, assim como André, tinham uma preocupação com respeito ao reino de Deus, às coisas espirituais, dentro do clima surgido naquele tempo de ansiedade pela vinda do Messias, ante a opressão ocasionada pelo domínio romano, que havia se intensificado. Apesar de indoutos, de não terem freqüentado as academias rabínicas, de terem se dedicado, ainda jovens, à pesca, eram homens que anelavam pela redenção de Israel.

 

- Apesar de Jesus ter mudado o nome de Pedro, este não O seguiu de imediato. Com efeito, depois deste encontro, que ocorreu em Betânia, da outra banda do Jordão, onde João batizava (Mt.3:13; Jo.1:28,35 — não confundir com a aldeia de mesmo nome onde moravam Lázaro e suas irmãs), vemos que Jesus foi para a Galiléia, mas Pedro não O seguiu, tendo retornado à pesca, assim como seu irmão André (Mt.4:18).

 

- Pedro só iria abandonar tudo e seguir a Cristo no episódio que os estudiosos da Bíblia chamam de “pesca maravilhosa”, descrito com minúcias em Lc.5:1-11, quando nos é informado que Jesus foi pregar no mar da Galiléia e, como a multidão o apertava, entrou no barco de Simão e dali os ensinou. Depois da preleção, mandou que Pedro fosse para o mar alto e lançasse as redes para pescar, o que totalmente contrário à lógica, vez que haviam pescado a noite inteira e nada haviam apanhado. Entretanto, Simão, diante desta ordem do Senhor, que nem sequer pescador era, obedeceu e houve uma grande quantidade de peixes. Simão, então, prostrou-se diante do Senhor e pediu que Se ausentasse dele pois era ele um homem pecador. Jesus, porém, disse para que Simão não temesse e o chamou para que fosse, dali em diante, pescador de homens. Foi, então, que Pedro tudo deixou e passou a seguir o Senhor.

 

- Já aqui vemos que Pedro precisou de um sinal para compreender que deveria seguir a Cristo. Não fora suficiente o encontro que tivera em Betânia além do Jordão, que lhe tivesse sido mudado o nome. Pedro mostra-se aqui como um típico representante dos “crentes da circuncisão”, pois, como bom judeu, movia-se através de sinais (I Co.1:22). Diante do sinal, porém, rende-se ao Senhor Jesus, o que não foi algo fácil para um homem como Pedro, que, ao longo da narrativa dos Evangelhos, revela ser um homem impulsivo, violento e que, assim agindo, demonstrava uma certa simpatia para com o partido dos zelotes, os radicais judeus que entendiam que a libertação de Israel deveria se dar pela revolta ao domínio romano.

 

- Pedro obedeceu ao Senhor Jesus. Lançou a rede sob a palavra de Cristo (Lc.5:5) e, ao ver o sinal da pesca maravilhosa, reconheceu o senhorio e a divindade de Jesus, tanto que se prostrou aos Seus pés e se confessou um pecador, incapaz de ter a companhia de Cristo, o Santo (Is.40:25; Os.11:9). Não há como seguir a Jesus sem que se tenha a obediência à Palavra de Deus, a fé nesta mesma Palavra, a confissão dos pecados e o reconhecimento do senhorio e da divindade de Cristo Jesus. Já tivemos esta experiência?

 

OBS: O gesto de Pedro é um explícito reconhecimento da divindade de Cristo, máxime para quem simpatizava com os zelotes, como era o caso de Simão, para quem, no dizer do historiador judeu, Flávio Josefo, “…há um só Deus, ao qual se deve reconhecer por senhor e rei; eles tem um amor pela liberdade, que não há tormentos que não sofram e não deixem sofrer as pessoas mais caras, antes que dar a quem que seja o nome de senhor e de mestre.…” (Antigüidades Judaicas XVIII, 2, 760. In: História dos hebreus. Trad. Vicente Pedroso, 1990, v.2, p.154). Dizemos que Simão era, no mínimo, simpatizante dos zelotes, porque se mostrou, ao longo da narrativa dos Evangelhos, uma pessoa que aceitava o uso da violência e vivia armado, assim como os zelotes.

 

- Mas, observemos o texto sagrado, Pedro abandonou tudo e seguiu a Cristo, mas não pediu perdão pelos seus pecados. Reconheceu-se pecador, viu em Jesus o Messias, mas não se arrependeu dos seus pecados, o que faria, apenas, depois de ter negado a Cristo, ocasião em que choraria amargamente e, então, se converteria (Lc.22:62). Por isso, já no final do Seu ministério terreno, Jesus, em um gesto surpreendente para nós, diz que Pedro ainda precisava se converter (Lc.22:32). A conversão exige mais do que a obediência à Palavra, a confissão dos pecados e o reconhecimento do senhorio e divindade do Senhor: exige arrependimento dos pecados. Sem o arrependimento, não há como obter-se a salvação. Daí porque a pregação de Cristo ter sido a do arrependimento, antes de mais nada (Mc.1:15; Lc.5:32; At.5:31).

 

- Dos primeiros discípulos a ser chamado, Pedro também faria parte do chamado “círculo íntimo do Senhor”, as três “colunas” do colégio apostólico, como denominaria o apóstolo Paulo (Gl.2:9), os três discípulos que presenciaram os momentos mais profundos do ministério terreno de Cristo (Mc.5:37; Mc.9:2; 14:33; Lc.8:51). Apesar desta “intimidade”, Pedro não passava de um “ouvinte” (outro significado do nome “Simão”), antes de se converter. Não podemos ser apenas ouvintes da Palavra do Senhor, pois isto é insuficiente para que alcancemos a salvação (Tg.1:23,25). Devemos ser ouvintes e praticantes, cumpridores de tudo quanto o Senhor nos ensinar.

 

- Mas, além de ter sido um dos três que desfrutavam de maior intimidade com o Senhor, Pedro, também, teve experiências singulares no ministério terreno de Cristo, a ponto de, inclusive, se ter criado a falsa doutrina do “primado de Pedro”, em que, inclusive, está baseado o Romanismo. Pedro foi o discípulo a quem o Pai revelou a identidade de Jesus como Filho do Deus vivo (Mt.16:16,17), como também o que presenciou o milagre da moeda na boca do peixe para o pagamento das didracmas de Cristo e do próprio Pedro (Mt.17:27).

 

- Parece, então, ser até paradoxal que, no final de Seu ministério terreno, Jesus tivesse dito a Pedro que ele necessitaria se converter, diante de tantas experiências vividas ao longo daqueles mais de três anos na companhia do Mestre. Entretanto, esta era a realidade espiritual de Pedro: fazia companhia a Cristo, mas não passava de um “ouvinte”, ainda era “Simão” e não um “Pedro”, uma “pedra viva de Cristo” (I Pe.2:5), que pudesse oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus.

 

- Com efeito, vemos que, durante o ministério terreno de Jesus, Pedro era um discípulo que, ou se adiantava, ou se atrasava em relação à vontade do Senhor, numa oscilação de quem não tinha, ainda, se entregado a Cristo, passado a não mais viver, mas a Cristo viver nele. Em vários episódios, vemos que Pedro está sempre em dissintonia com o Senhor.

 

- Logo no início de sua convivência com o Senhor, vemos Jesus entrando na casa de Pedro, em Cafarnaum, certamente para se alimentar, depois do culto sabatino na sinagoga (Mt.8:14-17; Mc.1:29-32; Lc.4:38-41). A sogra de Pedro, porém, estava ardendo em febre. Jesus foi ao encontro da sogra, tomou-a pela mão e a curou. Pedro nada fez, nem sequer pediu a Jesus que curasse sua sogra, o que parece ter sido feito pelos outros que acompanhavam a Jesus e isto depois de ter sarado a enfermidade do criado do centurião. Estava, pois, atrasado, aquém da vontade do Senhor.

 

- Mas, ainda na casa de Pedro, Jesus, depois de ter curado a muitos enfermos naquele mesmo dia, no dia seguinte, sendo ainda escuro, foi orar (Mc.2:36-39). Simão e os outros seguem-nO, mas não para orar, mas para chamá-lO, pois havia outros enfermos que haviam se dirigido até a casa da sogra de Pedro. Jesus, então, lhes diz que é necessário que ele vá pregar o Evangelho em outros lugares, não podendo ficar somente na casa de Pedro. Mais uma vez, Pedro se encontrava aquém da vontade do Senhor.

 

- No episódio da tempestade no mar da Galiléia em que Jesus anda por sobre as águas (Mt.14:22-36; Mc.6:45,46; Jo.6:15-21), vemos que Pedro, assim como os outros discípulos, primeiro achou que Jesus fosse um fantasma, mas, depois, quando Jesus Se identificou, Pedro foi mais ousado que todos os demais e pede uma comprovação do dito de Cristo, pedindo que também se lhe fosse possível andar sobre as águas, o que é concedido, mas, quando já andava sobre as águas, Pedro temeu os ventos, as ondas e a tempestade, começando a afundar, tendo sido socorrido por Cristo e retornado, nEle segurando, ao barco. Pedro esteve aquém da vontade do Senhor e depois foi para além da vontade de Cristo, sendo, depois, considerado um homem de pouca fé pelo Senhor, em virtude de suas dúvidas. Atrasado ou adiantado, mas nunca no centro da vontade do Senhor.

 

- Quando Jesus defende Seus discípulos perante os fariseus, porque eles não haviam lavado as mãos quando comiam pão, Pedro pediu que o Senhor explicasse a parábola que contara a respeito dos fariseus (Mt.15:13-20; Mt.7:14-23). Jesus identificou nesta pergunta de Pedro mais uma incompreensão a respeito das coisas de Deus. Era mais uma demonstração de quem se encontrava fora de sintonia com a vontade do Senhor.

 

- Em Cesaréia, então, temos uma relevante demonstração desta dissintonia do discípulo em relação ao seu Mestre. Jesus perguntou aos discípulos quem dizia ser o Filho do homem e várias foram as respostas dadas. Pedro, porém, tomou a palavra e disse que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus vivo (Mt.16:16). O próprio Jesus testifica que Pedro havia tido esta revelação diretamente do Pai, pois era impossível que a mente humana chegasse a tal conclusão. Encontramos aqui Pedro como sendo, dos discípulos, o único que se pusera à inteira disposição de Deus para receber tamanha revelação, revelação que permitiria que Jesus revelasse, em seguida, neste diálogo com Pedro, o mistério que havia ficado oculto desde a fundação do mundo, que era a Igreja (Ef.3:3-6). Pedro chegava, assim, à estatura de um verdadeiro profeta (Am.3:7).

 

-No entanto, muito provavelmente naquele mesmo dia, Pedro mostraria que ainda estava fora da sintonia com o Senhor, apesar da revelação que lhe havia sido feita pelo Pai. Quando Jesus começou a dizer que importava que deveria morrer pelos nossos pecados, Pedro se deixou usar pelo próprio Satanás e tomou o Senhor à parte, repreendendo-O, querendo que tivesse compaixão dEle próprio. Jesus teve de mandar Satanás se retirar. O homem que havia sido o canal do Pai para a revelação de quem era o Cristo, servia-se, logo em seguida, de instrumento do inimigo. Como poderia ser isto possível? Simplesmente porque Pedro ainda não havia se convertido, guiava-se pela sua impulsividade, tanto que o diabo quis cirandar com ele (Lc.22:31) e não fosse a intercessão de Jesus, certamente teria perdido a sua fé (Lc.22:32).

 

- O que percebemos aqui é que Pedro, apesar de ter sido levado por Jesus aos aspectos mais profundos do Seu ministério terreno, continuava sendo um discípulo que ainda não havia se convertido, alguém que ainda não havia se disposto a estar no centro da vontade do Senhor. É elucidativo, aliás, que, na última páscoa, Pedro tenha escolhido se sentar num lugar mais distante de onde estava Jesus, tanto que precisou fazer sinal a João, que estava com seu rosto inclinado no seio do Senhor, para que se perguntasse ao Senhor quem era o traidor (Jo.13:24). Pedro mantinha-se distante de Cristo, apesar de toda a intimidade que se lhe dera (tanto que foram Pedro e João os organizadores de toda a páscoa – Lc.22:8).

 

- Precisamos estar no centro da vontade do Senhor, conhecer os Seus desejos (precisamente o que significa a posição física de João, que, reclinando-se no seio do Senhor, podia ouvir-Lhe o coração), a fim de que façamos a Sua vontade. É muito triste desfrutarmos da intimidade que Jesus se nos oferece para ver as Suas maravilhas, contemplar o Seu poder, mas não podermos descobrir qual é a Sua vontade, mantendo-nos distantes dEle, impedindo que venha a nos vencer, a vencer o nosso “eu” e, assim, fazer com que sejamos Seus verdadeiros e convertidos discípulos. Enquanto não nos rendermos ao Senhor, não poderemos ser Seus genuínos e autênticos seguidores e estaremos sempre à mercê do inimigo, que quer nos “cirandar”, isto é, nos “peneirar” como trigo, destruindo-nos totalmente. Cuidado!

 

- Apesar de ser usado pelo diabo para tentar demover o Senhor de Sua missão, Pedro continuou a desfrutar da companhia de Jesus. Seis dias depois de ter tido a revelação de quem era Jesus, o discípulo, com Tiago e João, é levado pelo Senhor ao monte da transfiguração, onde pôde o futuro apóstolo ver a Jesus “tal como Ele é”, em glória, numa visão que marcaria para sempre a sua vida (cfr. II Pe.2:16-18). Contemplar a glória de Deus, como se observa, não é, também, prova de conversão. Pedro viu a Jesus glorificado, mas não era ainda convertido. Muitos verão a glória de Deus, o Seu poder, mas, lamentavelmente, por não terem se convertido, não entrarão no reino dos céus (Mt.7:22,23). Qual é a nossa situação?

 

- No episódio da transfiguração, mais uma vez, Pedro revela sua dissintonia com o Senhor. Quando Jesus Se transfigura, surgem para falar com Ele Elias e Moisés. Pedro, então, tomou a palavra (ou seja, entremeteu-se numa conversa em que não era parte, prova de que não tinha sabedoria – Pv.20:3), querendo construir três tabernáculos no alto do monte, uma para Cristo, outra para Elias e uma outra para Moisés, pois entendia que o lugar onde estavam era bom. Mais uma vez, Pedro estava totalmente fora dos propósitos divinos. Nem sequer se lembrara dos seus outros nove companheiros, que haviam ficado ao pé do monte. Para falar a verdade, nem mesmo de si mesmo e de Tiago e de João, pois havia planejado armar apenas três tabernáculos, permanecendo ao léu.

 

- Pedro assemelhava-se a muitos “crentes” da atualidade, que não pensam nos outros, na necessidade da evangelização, mas querem apenas estar bem, ficar no “lugar bom”, mesmo que ao léu, mesmo que fora dos propósitos divinos. Em vez de falar, de entremeter-se nos assuntos espirituais, pensam apenas em “habitar” junto a “tabernáculos” a serem construídos por homens, como se o que vem do homem pudesse ter algum valor para o que provém da glória divina. Quantos tomam a palavra e não querem sequer ouvir o que Jesus tem a nos dizer, seja através da lei (representada por Moisés), seja através dos profetas (representada por Elias), enfim, o que a Palavra tem a nos ensinar. Querem antes “folguedos” que Palavra. Esta é uma atitude de quem não é convertido ainda. Cuidado!

 

- Diante de tamanha insensatez, o Pai Se manifesta e, restabelecendo a ordem das coisas, determina que o Seu Filho fosse ouvido (Mt.17:5). O segredo para o “ouvinte” (i.e., Simão) deixar de ser apenas ouvinte é passar a “escutar o Filho em quem o Pai Se compraz”. “Escutar” significa “estar consciente do que está ouvindo”, “ficar atento para ouvir”. Entretanto, Pedro não sabia sequer o que estava a dizer (Lc.9:33). È muito melhor ouvir do que oferecer sacrifícios de tolos (Ec.5:1), sendo através do ouvir que se obtém a fé salvadora (Rm.10:17).

 

- Precisamos ouvir o que Jesus tem a nos dizer, ou seja, precisamos ter contacto diuturno com a Palavra de Deus (Sl.1:1,2). Sem isto, não poderemos saber qual é a vontade de Deus para as nossas vidas. Muitos querem “tomar a palavra” na atualidade, mas não querem ouvir. Pedro não queria ouvir, queria apenas desfrutar da “habitação no bom lugar” e isto era insuficiente para construir uma vida espiritual verdadeira e profícua.

 

- Depois da experiência da transfiguração, Pedro tem uma outra experiência com Jesus, relacionada com as didracmas (Mt.17:24-27), o imposto do templo (Ex.30:13; II Cr.24:9; Ne.10:32). Os cobradores do imposto vieram a Pedro e lhe perguntaram se Jesus pagava as didracmas. Pedro, que já conhecia quem era Jesus, respondeu afirmativamente e foi ao encontro de Jesus que, antes que fosse cobrado por Pedro, mostrou ao Seu discípulo que Ele, Jesus, não precisaria pagar aquele tributo, pois era o Senhor de todas as coisas. No entanto, para que não houvesse escândalo, mandou que Pedro fosse ao mar, pescasse com anzol e tomasse uma moeda da boca do peixe que fisgasse, pagando não só o tributo do Senhor, mas o dele próprio.

 

- Pedro, impulsivo, foi e fez o que Jesus mandou, uma vez mais mostrando a sua obediência à Palavra do Senhor, apesar de toda a sua ilogicidade. Se bem percebermos o que Jesus disse, Pedro tinha todos os motivos para desconfiar ou, ao menos, debater com o Senhor o que se estava a exigir. Pescar com anzol no mar? Pegar uma moeda da boca de um peixe? Todavia, Pedro foi e fez o que se lhe mandou. Pedro era destemido, atirado, mas isto era insuficiente para servir a Cristo. Tanto assim é que o Senhor providenciou que também ele pagasse o tributo, o que, certamente, não era de sua vontade fazer (mais um indício de sua simpatia pelos zelotes). Jesus, porém, ensinava o apóstolo a ser submisso às autoridades religiosas, lição que seria aprendida e, no futuro, ensinada pelo próprio Pedro, inclusive com extensão à autoridade civil (cfr. I Pe.2:13-17). Pedro, portanto, por causa de suas convicções políticas, não aceitava se submeter à autoridade religiosa, mas foi obrigado a isto por uma ordem de Jesus. Mais uma vez, vemos como Pedro ainda estava aquém da rendição incondicional a Cristo.

 

- A próxima experiência que vemos Pedro aprender é a que diz respeito ao perdão (Mt.18:21,22). Quando o Senhor Jesus falava sobre o pecado de um irmão, sobre a disciplina na Igreja, Pedro perguntou-Lhe sobre o limite do perdão, considerando que este limite seria, no máximo, o de sete vezes, defendido, então, pelos “escribas liberais” do seu tempo, com base em Pv.24:16. Entretanto, para surpresa de Pedro, Jesus afirmou que não era sete o limite do perdão, mas, sim, “setenta vezes sete”, número que não corresponde literalmente a quatrocentos e noventa, mas que tem o significado de “sempre”, “sem limite”. Quantitativamente, portanto, percebe-se quanto Pedro estava ainda aquém do centro da vontade de Deus. A diferença era de “setenta vezes”. Uma das características dos “ouvintes” mas não convertidos é, precisamente, o limite que se pretende impor ao amor e à misericórdia divina. Os mais “liberais” sempre se encontram a “setenta vezes” dos parâmetros divinos.

 

- A próxima passagem do ministério terreno que envolve Pedro é a que diz respeito à indagação que fez depois do encontro de Jesus com o jovem rico, o chamado “mancebo de qualidade”. Depois de o jovem ter se recusado a servir a Cristo e o Senhor ter condenado o amor às riquezas, Pedro perguntou a Jesus qual seria a recompensa daqueles que O servissem, já que haviam deixado tudo para O seguir (Mt.19:27-30; Mc.10:28-31; Lc.18:28-30). Notamos a insensibilidade espiritual de Pedro. Jesus acabara de dizer que quem amasse as riquezas, perderia a sua salvação, que mais importante era servir a Jesus do que ter bens e posses neste mundo, mas Pedro quis saber qual era a sua recompensa por “ter deixado tudo”.

 

- A preocupação com as coisas desta vida quando se serve a Cristo é mais um sinal de que ainda não se está convertido. Pedro, ainda que “setenta vezes” distante dos parâmetros divinos, achava-se no “direito” de exigir alguma recompensa, vez que “havia deixado tudo para seguir a Jesus”. Assemelha-se, assim, a alguns “crentes” da atualidade, que se acham com “direitos” diante de Deus, que “exigem”, “decretam”, “determinam” coisas ao Senhor. Pobres pessoas são estas, pois, assim como o mancebo de qualidade, correm o risco de não ter a salvação. Afinal, Paulo nos ensina que quem espera em Cristo somente para esta vida é o mais miserável de todos os homens (I Co.15:19). Cuidado!

 

- Diante desta pergunta de Pedro, o Senhor Jesus, que muito O amava, como ama a todos os ouvintes não convertidos, fez-lhe a promessa de que julgaria as tribos de Israel durante o reino milenial de Cristo, mas que, também, aqueles que, depois dos doze, resolvesse seguir a Cristo, desfrutariam de bênçãos cem vezes maiores do que os bens materiais que tivessem deixado, além de herdar a vida eterna. Para as preocupações das coisas desta vida, Jesus traz a Pedro a realidade dos lugares celestiais em Cristo, onde já fomos abençoados com todas as bênçãos espirituais (Ef.1:3). Uma lição que seria aprendida por Pedro e por ele, também, ensinada, depois de sua conversão (cfr. I Pe.1:3,4).

 

- Outra passagem do ministério de Cristo onde Pedro tem participação é o caso da figueira amaldiçoada que se secou (Mt.21:18-22; Mc.11:12-26), quando o Senhor dá a Pedro a lição da fé. Neste episódio, Jesus, ao procurar figos em uma figueira, embora não fosse tempo de figos, amaldiçoou-a. No dia seguinte, Pedro espantou-se ao ver que a figueira tinha secado conforme as palavras do Senhor. Diante deste espanto, o Senhor disse a Pedro que ele deveria ter fé em Deus, a fim de que o que se pedisse a Deus fosse feito.

 

- Neste episódio, vemos como Pedro era, ainda, uma pessoa que necessitava de conversão, de crer em Deus para que pudesse alcançar a salvação de sua alma. Maravilhara-se de que a figueira tivesse se secado, tendo, então, o Senhor mostrado que tudo é possível ao que crê, mas que a fé exige, antes de mais nada, o perdão dos pecados.

 

- Quando o Senhor disse aos discípulos que todos se escandalizariam nEle, advertência que foi objetada por Pedro, que afirmou que jamais deixaria seu Mestre (Mt.26:31-35; Mc.14:27-31; Lc.22:31-34; Jo.13:36-38). Tratava-se de mais uma demonstração de que Pedro se guiava única e exclusivamente pelos seus desejos, pelos seus impulsos. Servia a Cristo “do seu jeito”, como tantos “crentes” da atualidade. Achava que sua valentia, sua disposição, seu destemor eram suficientes para servir a Cristo e, desta maneira, de modo algum poderia deixar a Cristo nos instantes de dificuldade.

 

- Como Pedro estava equivocado. O próprio Jesus lhe diz que ele haveria de negá-lo três vez antes que o galo cantasse duas vezes, palavras em que Pedro não acreditou, insistindo em devotar ao seu Mestre uma dedicação e lealdade singulares e superiores a de todos os demais discípulos. Como Pedro estava enganado, pois não se serve a Deus por força ou violência, mas pelo Espírito Santo. Quem é nascido da carne, é carne; quem é nascido do Espírito, é espírito (Jo.3:6). Embora não tivesse aceitado de pronto a palavra de Cristo, ela foi bem aprendida, tanto que, anos mais tarde, seria ensinada pelo próprio Pedro aos salvos (cfr. I Pe.1:20-25). Pedro mantinha sua recusa de se converter, achando que, por si só, poderia servir a Cristo.

 

- Naquela mesma semana, Cristo lavou os pés dos discípulos, tendo Pedro, uma vez mais, mostrado estar fora do centro da vontade do Senhor (Jo.13:1-20). Não queria que o Senhor lavasse os seus pés, dizendo que isto era ilógico, pois era ele, o discípulo, quem deveria lavar os pés do Mestre, mas, diante da afirmação de Jesus de que, se não permitisse que Ele lavasse seus pés, não teria parte com Ele, Pedro, então, quis que Jesus lhe desse um banho. Nada mais elucidativo do comportamento de Pedro nesta fase de sua vida: aquém e além do propósito do Senhor. Quantos não querem fazer o que Jesus lhes manda e, depois, exageram quando confrontados pelo Senhor com a sua recusa? Entretanto, não há necessidade de “exageros”, pois quem está limpo pela Palavra de Deus sabe perfeitamente qual é a vontade do Senhor. Quem, porém, não foi transformado por esta Palavra, ou recusa fazer o que Deus quer ou, então, parte para “exageros” inadmissíveis, que não passam de pura carnalidade.

 

- Após a páscoa, onde, como vimos, Pedro se manteve distante de onde estava Jesus, o Senhor chama o Seu “círculo íntimo” para o Getsêmane (Mt.26:36-46; Mc.14:32-42; Lc.22:39-46; Jo.18:1). Pedro, Tiago e João vão fazer companhia a Jesus, que se distancia deles cerca de um tiro de pedra e começa a orar, uma oração extremamente angustiante, onde se inicia a solidão do Senhor na Sua tarefa singular de salvar a humanidade. Os discípulos não O acompanham em oração, dormem, pois estavam sobrecarregados. Ali Pedro já poderia ter percebido que, assim como os demais, não tinha podido velar nem uma hora com o Senhor, tanto que o Senhor Se dirigiu especificamente a Pedro, chamando-o de “Simão”, a fim de advertir-lhe a sua igualdade com os demais (Mc.14:37), pois os fatos desmentiam todas as bravatas anunciadas por Pedro anteriormente. No entanto, sua carnalidade não lhe permitia ver que estava na mesma condição dos demais, que toda a sua valentia seria inútil.

 

- Jesus é o mesmo (Hb.13:8). Continua a advertir todos quantos dEle se aproximam, ainda que sem uma genuína conversão, afim de que se arrependam dos seus pecados e aceitem a submissão ao Senhor. Jesus não Se cansa de lhes falar, através do Seu corpo místico, que é a Igreja, da necessidade que têm de nascer de novo, de aceitar o Seu jugo suave e Seu fardo leve, de renunciar a Si mesmos, tomar a Sua cruz, para que possam segui-lO e alcançar a salvação, que é o fim de nossa vida espiritual, de nossa fé (como ensinará Pedro – I Pe.1:9). Queira o Senhor que, ao contrário de Pedro na oportunidade que estamos a tratar, despertemos do sono espiritual e possamos ser esclarecidos por Cristo (Ef.5:14).

 

- Segue-se, então, a prisão do Senhor no jardim. Pedro, como sempre, impetuoso, tenta livrar o Senhor usando da violência. Corta a orelha do servo do sumo sacerdote, de nome Malco (Jo.18:10), revelando, mais uma vez, como estava fora da vontade de Deus. Jesus opera, então, o milagre de pôr a orelha de Malco no lugar e manda que Pedro não mais usasse da espada.

 

- Tem início a mais importante experiência da vida de Pedro: a sua conversão. Jesus foi preso e levado até a casa de Anãs. Assim como João, Pedro começa a seguir os passos de Jesus, mas, em mais uma demonstração física de seu estado espiritual, segue-O de longe (Mt.26:58; Mc.14:54; Lc.22:54), tendo sido levado para dentro da porta da casa por João (Jo.18:16). Este distanciamento físico de Pedro revelava quanto Pedro estava longe, ainda, do Senhor Jesus, porque não era ainda convertido.

 

- Entretanto, Pedro havia estado com Jesus e foi prontamente reconhecido pelos criados do sumo sacerdote. A porteira reconheceu-lhe (Mt.26:69; Jo.18:17), tendo, então, Pedro negado Jesus pela primeira vez, dizendo que não era Seu discípulo. Uma outra criada o vê, depois que ele se dirigiu ao vestíbulo, reconhece-o, mas ele nega a Cristo pela segunda vez (Mt.26:71,72), dizendo não conhecer “tal homem”. Pouco depois, não só um, mas vários que ali estavam, aquentando-se, como ele (Mc.14:67; Lc.22:55), denunciando o seu sotaque galileu, começaram a falar que ele era discípulo de Jesus, mas ele, então, não só negou ser discípulo e conhecer a Cristo, como começou a praguejar e a jurar neste sentido. Então, o galo cantou pela segunda vez e Pedro se lembrou das palavras de Cristo, Cristo, aliás, que olhou para ele com um olhar penetrante (Lc.22:61).

 

- Após o segundo canto do galo, Pedro caiu em si. Viu que de nada valera seus esforços humanos para servir a Cristo. A violência, a impetuosidade, o destemor, a ousadia haviam sido infrutíferos. No momento em que foi apresentado à dificuldade, ao risco de vida, Pedro negara a Cristo, recorrendo inclusive a maldições e juramentos. Vergonhosamente negava uma convivência de mais de três anos. Depois do olhar de Cristo, Pedro se retirou do local e chorou amargamente (Mt.26:75; Mc.14:72; Lc.22:62).

 

- Este choro amargo de Pedro foi importantíssimo para a sua vida espiritual. Era a tristeza segundo Deus que opera o arrependimento para a salvação (II Co.7:9,10). Pedro, pela primeira vez, não só reconheceu ser pecador ou a soberania de Jesus, mas se arrependeu do que havia feito. Havia se arrependido e confiado em Cristo, que, com um simples olhar, mantinha o caminho aberto para a reconciliação, disposição esta que fez questão de reafirmar, já ressuscitado, na mensagem angelical às mulheres tornadas testemunhas de Seu ressurgir (Mc.16:7). Chegara o dia da conversão de Pedro.

 

- Não há conversão sem que haja, antes, arrependimento de pecados e o arrependimento envolve dois aspectos: tristeza pelo que se cometeu e disposição de não mais repetir os erros, ou seja, mudança de mentalidade (a palavra grega “metanóia”, que é a palavra traduzida por arrependimento indica, precisamente, a mudança de mentalidade). Somente há perdão de pecados se houver arrependimento. Não basta apenas a confissão nem a tristeza pelo cometimento da falta. Se não houver a disposição de mudança, a “mudança de mentalidade”, não teremos senão o remorso, a sinceridade, que é importante mas insuficiente para se alcançar a salvação (Hb.12:17). A conversão envolve, necessariamente, o arrependimento (Jr.31:19).

 

OBS: Recentemente, em uma entrevista, um dos mais famosos entrevistadores da televisão brasileira afirmou que o que considerava ser a maior mensagem do Cristianismo era o “perdão imediato”, de modo que “não haveria como um pecado impedir a salvação de alguém”. Esqueceu-se, porém, esta celebridade que só há “perdão imediato” quando há arrependimento. Sem arrependimento, não há perdão e a mensagem do Evangelho prega o arrependimento e remissão dos pecados (At.5:31). Não nos iludamos com estas “facilidades” que o mundo vem apregoando.

 

II – A BIOGRAFIA DE PEDRO (II) – PEDRO, O PESCADOR DE HOMENS, A PEDRA VIVA DE CRISTO QUE ABRIU AS PORTAS DO EVANGELHO A JUDEUS E GENTIOS

 

- Pedro havia se convertido a Cristo Jesus. Tendo chorado amargamente e sentido o perdão dos seus pecados, não se isola do grupo, como fizera Judas Iscariotes, que apenas tinha sentido remorso e não arrependimento. Está com os outros dez discípulos naqueles dias difíceis e sombrios após a morte do Senhor. Já era outro, pois não incitou os companheiros a uma revolta ou a uma atitude precipitada, mas, juntamente com eles, trancara-se no cenáculo com medo dos judeus (Jo.20:19).

 

- Ao terceiro dia, as mulheres vão ao encontro dos discípulos e afirmam que Jesus ressuscitou. Pedro e João vão, então, ao sepulcro, para averiguar esta notícia. Pedro e João estão agora juntos, lado a lado, numa clara demonstração da mudança operada em Pedro (Jo.20:2-4). A propósito, foi precisamente Pedro quem teve a ousadia de entrar no sepulcro e ter uma ampla e completa visão de tudo o que ali havia. Sua ousadia, seu dinamismo agora estavam sendo utilizados sob a direção do Espírito de Deus, pois ele havia se convertido (Jo.20:6-10). Pedro, assim, demonstrou ter crido na mensagem angelical, que o incluíra entre os servos do Senhor. Não mais se preocupara com a negação vergonhosa de três ou quatro dias antes, porque, quando nos convertemos, “…uma coisa fazemos, e é que, esquecendo-nos das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de nós, prosseguimos para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Fp.3:13,14 com alteração das formas verbais), pois, “se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (II Co.5:17).

 

- Ao contemplar os lençóis e o sepulcro vazio, Pedro retirou-se dali admirado consigo mesmo (Lc.24:12). Era alguém que, a partir de então, meditava no que estava a ver, que não tinha pressa em tomar a palavra, um homem que demonstrava sua mudança, sua transformação, sem que tivesse perdido o seu temperamento, temperamento que se encontrava, agora, sob o controle do Espírito, Espírito Santo que receberia naquele mesmo dia (Jo.20:22).

 

- Todavia, ainda Pedro teria uma outra demonstração de fraqueza, mesmo após a conversão. Depois que Jesus havia aparecido segunda vez aos discípulos no cenáculo, oportunidade em que a incredulidade de Tomé fora lançada em rosto, não mais apareceu. Os dias foram se passando e Pedro desanimou. A ausência do Senhor foi entendida por ele como sendo um abandono e, a despeito de ter sido chamado para ser um pescador de homens, quis voltar a ser pescador de peixes e, rapidamente, dada sua impetuosidade e presença de espírito, conseguiu que os discípulos tudo abandonassem e voltassem para a vida da pesca, que havia sido deixada há mais de três anos (Jo.21:3).

 

- Pedro estava convertido, mas estava “mal acostumado”. O Senhor havia se apresentado miraculosamente durante dois domingos e Pedro, dentro de sua impetuosidade, achava que tais aparições deveriam ser freqüentes e contínuas. Como o Senhor não mais aparecera, Pedro desanimou e resolveu voltar à vida velha, ao modo antigo de viver. Estava convertido, mas ainda não estava maduro.

 

- Muitos são os “crentes” da atualidade que, apesar de terem tido uma real experiência com o Senhor, de serem convertidos, ainda não alcançaram a maturidade espiritual, querendo que haja sinais e maravilhas a cada instante, a cada momento. Correm atrás destes sinais e maravilhas, invertendo a ordem das coisas, pois os sinais e maravilhas é que devem seguir aos que crêem e não o contrário (Mc.16:17). Quando milagres não acontecem, quando não há maravilhas extraordinárias (e a palavra “extraordinária” significa exatamente “algo fora do normal”, algo que não se repete sempre), resolvem voltar à vida velha, ao pecado. Devemos esquecer as coisas que ficaram para trás e olhar para o alvo, que é a salvação das nossas almas.

 

- Pedro resolveu ir pescar, saindo, uma vez mais, do centro da vontade de Deus. Repetiu-se, então, a experiência da pesca maravilhosa, que havia levado Pedro a deixar tudo por Jesus. Nada apanharam, mas, sob a palavra de Cristo, fizeram uma nova pesca milagrosa. Mas, se não fosse por João, Pedro nem sequer teria percebido que era o Senhor. Estava novamente cego e surdo para as coisas de Deus. É interessante notar que se encontrava nu ou quase que totalmente nu, tanto que, ao saber que se tratava do Senhor, cingiu-se com a túnica (Jo.21:7).

 

- Quando deixamos a direção de Deus, quando tencionamos voltar para a vida antiga, antes de nossa conversão, perdemos as vestes espirituais (Ap.3:18). Não nos iludamos: quem não estiver trajado de vestes espirituais, não herdará o reino de Deus (Ap.16:15).

 

- Pedro puxou a rede para a terra e ali estavam 153 grandes peixes, sem que a rede se rompesse. Era o fim da carreira de pescador de peixes de Pedro. Na refeição, Jesus, então, Se dirige para Simão, filho de Jonas e, por três vezes, pergunta-lhe se ele O amava. Era a aplicação da lei da semeadura. Pedro havia negado o Senhor por três vezes, deveria confessá-lO também por três vezes. Havia, também, voltado a ser pescador de peixes, mas deveria agora assumir, de vez, a sua condição de pescador de homens.

 

- Pedro agora era um outro homem. Não vemos mais a sua arrogância, a sua auto-suficiência. Perguntado se amava a Cristo, na primeira e na segunda vez, responde que sim, mas, mais do que isto, que o Senhor sabia que ele O amava (Jo.21:15). Não era mais o “sabe-tudo”, o “valente”, o “repreendedor”, mas o humilde servo de Jesus, a ovelha que é conhecida pelo seu pastor (Jo.10:14.27). Jesus, então, manda a Pedro que apascentasse os Seus cordeiros, a demonstrar que o obreiro não tem domínio sobre o rebanho, que é de Deus, lição que, muito bem aprendida por Pedro, foi depois por ele mesmo ensinada à Igreja (I Pe.5:2,3).

 

OBS: Como é diferente, aliás, a lição de Jesus que Pedro tão bem aprendeu e ensinou com o que faz o Romanismo que põe os supostos “sucessores de Pedro” como monarcas absolutos e infalíveis…

 

- Por fim, na terceira pergunta, Pedro entristece-se pela insistência do Senhor, mas, em vez de repreender o Mestre, como fizera anteriormente, de se exaltar, como tantas vezes procedeu, Pedro rende-se incondicionalmente a Jesus, dizendo que Ele sabia tudo. Era a renúncia incondicional de si mesmo, a auto-negação, o passo que ainda faltava para que Pedro fosse usado poderosamente na obra de Deus.

 

- Ante tal confissão, Jesus diz a Pedro que ele envelheceria e que, assim como não faria mais a sua vontade, no sentido espiritual, no final de seus dias, também seria levado para onde não queria, sendo, também, dito que haveria de morrer pelo Evangelho (Jo.21:18,19). Pedro, então, quis saber a respeito do destino de João, mas, numa clara demonstração de que não tinha “primado” entre os apóstolos, isto não lhe foi revelado.

 

- Jesus subiu aos céus e mandou que os discípulos aguardassem em Jerusalém o revestimento de poder para que pudessem iniciar o trabalho de pregação do Evangelho a toda a criatura. Reunidos para orar e buscar o Senhor pelo tempo que fosse necessário, vemos Pedro se levantando entre os discípulos e dirigindo a escolha de um substituto para Judas Iscariotes, oportunidade em que foi escolhido Matias, que passou a ser contado entre os doze apóstolos (At.1:15-26).

 

- Esta atitude de Pedro, porém, não parece ter tido a aprovação divina. O texto sagrado informa-nos que Matias passou a ser considerado apóstolo, sem afirmar que o Senhor o tivesse escolhido como tal, bem assim não há qualquer indicação de que houvesse a necessidade de se completar já o colégio apostólico ou que fossem necessários doze apóstolos. Vemos, assim, que, mesmo entre convertidos, há decisões que são tomadas sem a prévia direção e orientação do Espírito de Deus, cujas conseqüências podem ser funestas à obra do Senhor ou, simplesmente, indiferentes a ela, como parece ter sido o caso.

 

- No dia de Pentecostes, os discípulos são batizados com o Espírito Santo e o que faltava para que Pedro se tornasse o pescador de homens aconteceu. Revestido de poder, Pedro levanta-se entre os discípulos e prega à multidão que se aglomerara para ver o que se passava no cenáculo. Seu temperamento destemido, ousado e impulsivo, sob pleno envolvimento e controle do Espírito Santo, abriu a porta do Evangelho para os judeus, sendo esta a “primeira chave” mencionada pelo Senhor em Mt.16:19. Quase três mil almas se converteram ao Senhor, tendo Pedro, em seu sermão, falado sobre o arrependimento dos pecados e a necessidade deste arrependimento para o perdão dos pecados (At.2:38-40). Pedro havia experimentado esta salvação e, revestido de poder, podia, agora, anunciá-la com toda a ousadia que lhe era inata.

 

- O destemido Pedro tornou-se um homem de oração. O revestimento de poder não foi um instante esporádico de manifestação do poder de Deus na vida de Pedro. Ele passou a ter uma vida de oração.Aquele homem que não pudera velar nem uma hora com o Senhor no Getsêmane, era agora um homem que orava constantemente. Em At.3:12, vemos na companhia de João (como estão juntos agora…), indo ao templo, na hora da oração. Encontrou-se, então, com um coxo na porta Formosa do templo e ali, dizendo não ter prata nem ouro, mas poder de Deus, curou aquele homem, o que causou um movimento intenso no templo, oportunidade para que Pedro pregasse outro sermão e quase cinco mil pessoas se convertessem a Jesus (At.3:1-4:4).

 

- Os sinais e maravilhas acompanham os verdadeiros e genuínos crentes, que se dedicam a uma vida de santificação, consagração, oração e meditação na Palavra de Deus. Não há sinais e maravilhas com emoções e desleixo espiritual. Para que o poder de Deus se manifeste, é preciso que haja renúncia por parte dos “crentes”, uma vida devocional intensa e ininterrupta. Hoje em dia, não há mais a manifestação do poder de Deus por causa da ausência desta preparação. Os crentes não oram, não lêem a Palavra de Deus, não se consagram e, depois, querem que o “poder de Deus caia”. Os movimentos que surgem em locais quetais nada mais mais que manifestações carnais, muitas vezes induzidas por estratégias de neurolinguística e outras técnicas hipnóticas e de comunicação. Cuidado!

 

- Pedro e os demais discípulos, então, são levados ao Sinédrio, o mesmo tribunal que havia levado Jesus para ser condenado à morte. Mas Pedro agora está revestido de poder e é convertido, pronto a morrer pelo Senhor. Antes, uma simples criada abalara a sua opção por Cristo, mas agora nem mesmo o Sinédrio poderia calá-lo. Pedro pregou para os máximos intérpretes da lei judaica, que ficaram admirados com a sua pregação, sabendo que se tratava de homem sem letras e indouto. Quando instados a se calar, Pedro disse não ser justo deixar de falar o que tinham visto e ouvido. Era o destemor, a ousadia sob o controle do Espírito Santo. Diante de tamanha ousadia e poder de Deus, foram os discípulos soltos e, então, foram orar a Deus e o poder era tanto que o local onde estavam reunidos tremeu e todos foram cheios do Espírito Santo (At.4:5-31).

 

- Pedro é, então, usado pelo Espírito Santo em mais um dom espiritual: a palavra da ciência. O Espírito Santo lhe revela a artimanha de Ananias e Safira, que morrem pela palavra do apóstolo, após terem se recusado a dizer a verdade. Pedro mostra-se como um instrumento de Deus para a manutenção da santidade no meio do povo de Deus, trazendo temor em toda a igreja, prosseguindo a ser usado com sinais e maravilhas, a ponto de pessoas serem levadas para as ruas a fim de que ao menos a sombra de Pedro pudesse cobri-las, num sinal de que, em alguma vez, houve cura de enfermos por força da cobertura de sombra (At.5:1-16).

 

- Pedro, então, sentiu o peso do vitupério de Cristo, a perseguição. O Sinédrio e o sumo sacerdote lançaram mão dos apóstolos e os prenderam. Milagrosamente, o anjo do Senhor abriu as portas da prisão e eles, então, voltaram a pregar. Levados de novo à presença das autoridades religiosas, foram admoestados a se calar, açoitados e, depois, se regozijaram de que fossem dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus, não cessando de ensinar e de anunciar a Jesus Cristo (At.5:17-42).

 

- A perseguição aumentou ainda mais. Estêvão foi morto e Saulo começou a liderar uma impiedosa perseguição aos crentes, que se dispersaram, com exceção dos apóstolos. O Evangelho é pregado em Samaria e Pedro, juntamente com João, vão até lá para averiguar o trabalho feito por Filipe (At.8:14). Pedro impôs as mãos sobre os crentes de Samaria e eles também receberam o batismo com o Espírito Santo (At.8:17). Foi, então, Pedro tentado pela oferta de dinheiro. Simão, o mago, ofereceu-lhe dinheiro para ter o mesmo poder, mas Pedro mostra como deve se portar um autêntico e convertido servo do Senhor: rechaçou a oferta de dinheiro e denunciou a falta de comunhão de todos aqueles que não servem a Deus com um coração reto. Pedro, diante de um não convertido, revela que os não convertidos não têm parte no reino de Deus, ainda que se digam “crentes”. Pedro havia sido um destes, mas agora era um salvo remido no sangue de Jesus. Aleluia!

 

- Muitos pregadores e ensinadores da Palavra de Deus, que se converteram genuinamente, que foram batizados com o Espírito Santo, não têm resistido seja à perseguição, seja à oferta do dinheiro. Muitos, ao se defrontarem com a perseguição, desanimam, negam o Senhor, tentando, como se fez no passado, retornar à Igreja depois que a perseguição cessa. São os “relapsi” dos dias do Império Romano, que aceitavam oferecer sacrifícios aos deuses pagãos, para não ser queimados na fogueira e, depois, vinham pedir perdão nas igrejas locais, quando a tempestade da perseguição acalmava. Jesus perdoa, é bem verdade, mas devemos ver se há frutos dignos de arrependimento, ou se apenas são não convertidos que querem levar vantagem.

 

- A oferta de dinheiro, então, tem sido uma praga nos dias hodiernos. Muitos grandes homens e mulheres de Deus, usados poderosamente por Deus, como foi Pedro, não resistem à simonia, que é a “compra ou venda ilícita de coisas espirituais (como indulgências e sacramentos) ou temporais ligadas às espirituais (como os benefícios eclesiásticos)”, “simonia”, aliás, que é palavra derivada precisamente de “Simão”, o mago. O amor do dinheiro desvia muitos da fé (I Tm.6:10) e é a causa do surgimento de tantos falsos mestres, como bem aprendeu Pedro (II Pe.2:3). Cuidado!

 

- Depois de ter pregado o Evangelho em aldeias de samaritanos (At.8:25), Pedro passou a ir visitar as igrejas que haviam se constituído em toda a Judéia, e Galiléia, e Samaria (At.9:31,32), sendo este o principal motivo pelo qual Paulo o denominou de o apóstolo dos da circuncisão, visto que Pedro era, sem dúvida, um apóstolo dedicado a assistir as igrejas de judeus que haviam se convertido a Cristo. Pedro, assim, pelo que se verifica, assim como Paulo, exercia sua autoridade apostólica sem ter uma igreja para administrar.

 

OBS: Não é, pois, senão fantasia a afirmação de que Pedro tenha sido “bispo de Jerusalém” (jamais dirigiu a igreja de Jerusalém, que era dirigida por Tiago, irmão do Senhor, como se vê claramente em At.15) e, depois, “bispo de Antioquia”, o que é desmentido pelo fato de Paulo tratar a Pedro como “dos da circuncisão”, quando a igreja em Antioquia era composta de gentios, de onde Paulo e Barnabé foram mandados como missionários, jamais tendo Paulo mencionado que Pedro tenha sido “bispo” ali. Aliás, a passagem de Gl.2 torna-se incompreensível se Pedro fosse o “bispo” daquela igreja e, que, a partir do ano 42, tivesse sido “bispo de Roma”, cidade onde se duvida tenha estado alguma vez.

 

- Nestas suas viagens junto aos da circuncisão, Pedro continuou a ser usado por Deus com sinais e maravilhas. Enéias foi curado da sua paralisia (At.9:33,34) e muitos se converteram em Lida e em Sarona. Em Jope, Pedro é usado por Deus para ressuscitar Tabita ou Dorcas (At.9:39-42), tendo, então, ficado ali muitos dias.

 

- Era hora de Pedro abrir a porta do Evangelho aos gentios. Tratava-se de fazer Pedro ultrapassar a barreira da resistência cultural. Verdade que já pregara o Evangelho aos samaritanos, mas, apesar de ser um povo hostil aos judeus, de qualquer maneira, era um povo que tinha o sangue israelita. No entanto, como bom servo de Cristo, alguém que agora estava no centro da vontade de Deus, Pedro deveria compreender que a salvação era para toda a humanidade, inclusive para os gentios.

 

- Deus, então, de um modo todo especial, trabalha com Pedro para que possa ir até a casa de Cornélio, centurião romano, o primeiro gentio a ser salvo pela atuação da Igreja (At.10-11). Pedro tem uma visão repetida três vezes em que se lhe mostram animais aparentemente impuros, mas que foram purificados pelo próprio Senhor e, depois, ainda que relutantemente, vai a casa de Cornélio, onde prega o Evangelho. Jesus batiza Cornélio e os seus com o Espírito Santo e só, então, Pedro aceita batizá-los nas águas. Ao retornar a Jerusalém, Pedro é alvo de uma verdadeira “comissão” (prova de que não era nem nunca tinha sido “bispo” naquela igreja), quando se chega à conclusão de que a salvação também era para os gentios. Era a “segunda chave” que o Senhor dera a Pedro em Mt.16:19, como o próprio Pedro reconhece em At.15:7.

 

- De volta a Jerusalém, Pedro sente, uma vez mais, o ardor da perseguição. Quem foi martirizado desta vez foi Tiago, o companheiro do “círculo íntimo” do ministério terreno de Jesus, uma das “colunas” da igreja. Pedro é preso em seguida, mas vemos como era diferente este Pedro. Preso e pronto para ser morto, dormia tranqüilamente na prisão (At.12:3-19), enquanto que, no passado, uma simples criada o fizera praguejar e jurar em falso. Como o Evangelho transforma as pessoas!

 

- Pedro foi acordado por um anjo e saiu da prisão, pensando tratar-se de um sonho. Já na rua é que percebeu que era realidade o seu livramento e foi para a casa de Maria, mãe de João Marcos (o autor do evangelho segundo Marcos), onde os crentes estavam reunidos em oração em favor de Pedro e ali testificou do seu livramento. Partiu, então, para outro lugar, dizem as Escrituras, enquanto que Herodes e os soldados não sabiam como explicar o ocorrido.

 

- A partir deste capítulo, o livro de Atos dos Apóstolos não mais se refere a Pedro, que cede seu lugar na narrativa, feita por Lucas, a Paulo. O que sabemos de Pedro na Bíblia, a partir de então, é que esteve em Antioquia, visitando aquela igreja, quando entrou em conflito com Paulo, antes do concílio de Jerusalém, porque passou a evitar comer com os crentes gentios, por causa dos crentes judaizantes (Gl.2:11-14), um comportamento recriminável e que vai contra a sinceridade que sempre caracterizara a vida e o ministério de Pedro. Pedro, porém, não era mais o homem de dura cerviz do passado e, prova disso, é que foi um grande defensor do trabalho de Paulo no concílio de Jerusalém (At.15:7-11), defesa que foi decisiva para que se tomasse a decisão de não impor a lei de Moisés aos cristãos gentios.

 

- Pouco sabemos da vida de Pedro a partir de então. A sua primeira epístola é dirigida aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (I Pe.1:1), regiões situadas na área que hoje corresponde à Turquia, a demonstrar que tenha trabalhado nestas regiões, pregando o Evangelho. No final desta carta, Pedro afirmou que a igreja em Babilônia (onde havia uma grande colônia judaica) saudava os destinatários da carta (I Pe.5:13). Tudo nos leva a crer, portanto, que Pedro tenha exercido seu ministério para o oriente, enquanto que Paulo tenha ido para o ocidente. A segunda carta de Pedro não traz qualquer informação a respeito de locais.

 

- Cedo surgiu uma tradição de que Pedro teria se deslocado para Roma e ali exercido seu ministério até ser martirizado, assim como Paulo, na primeira grande perseguição romana contra a Igreja, nos dias de Nero. Segundo esta mesma tradição, Pedro teria sido morto no monte Vaticano, em Roma, crucificado de cabeça para baixo, já que não se achou digno de ter a mesma morte de Cristo. Em cima desta tradição, a Igreja Romana pretende se mostrar como o “corpo visível de Cristo” e a “única e verdadeira Igreja de Cristo”, o que foi reafirmado recentemente pelo Vaticano, ao interpretar algumas disposições do Concílio Vaticano II que pareciam ter aquela Igreja alterado seu pensamento a respeito.

 

- No entanto, não há qualquer base escriturística para dizermos que Pedro tenha estado em Roma ou lá tenha morrido. Dizer que a “Babilônia” de I Pe.5:13 é uma metáfora e significa “Roma” é ir muito além do texto. Além do mais, se Pedro foi “bispo de Roma”, como explicar que Paulo não o tenha mencionado na epístola aos romanos? São evidentes sinais das Escrituras no sentido contrário da tradição, tradição, ademais, que está vinculada a falsas doutrinas e que, portanto, devem ser, no mínimo, postas sob suspeita pelos amantes da Palavra de Deus.

 

- Mais importante do que isto é que, nas suas duas epístolas, encontramos um Pedro que mostra ter aprendido todas as lições ministradas pelo Senhor durante o Seu ministério terreno, como já pudemos ver ao longo da biografia do apóstolo.

 

- Nestas duas cartas, Pedro mostra, claramente, que a Igreja deve se preocupar com a santidade, que se inicia com um genuíno e autêntico novo nascimento e que se prova mediante uma conduta exemplar, que deve ter em Cristo o seu único e exclusivo exemplo, conduta esta que se revela tanto na igreja, como na família e na sociedade. Além do mais, a igreja, diz-nos Pedro, precisa estar atenta para tudo o que ocorre à sua volta, jamais se esquecendo da volta de Cristo, devendo, enquanto o Senhor não vem, dedicar-se ao crescimento na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, não se deixando levar pelos falsos mestres. Que ensino precioso e que deve estar sempre presente em nossas mentes e corações, se quisermos ter a mesma certeza que o apóstolo deixa, pouco antes de terminar a sua carta, ou seja, a de que “…devemos procurar fazer cada vez mais firme a nossa vocação e eleição, porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçaremos” (II Pe.1:10 com alteração das formas verbais).

 

III – O QUE APRENDEMOS A FAZER COM PEDRO

 

- Depois desta longa biografia do apóstolo Pedro, que lições podemos ter no sentido positivo, ou seja, o que aprendemos a fazer com este vaso de barro que serviu para a glória do nome do Senhor?

 

- A primeira lição, destacada pelo ilustre comentarista, é a “sinceridade”, ou seja, “a qualidade de ser sincero”, a “qualidade de ser transparente, honesto”. A palavra “sincero” vem do latim “sincerus”, que significa “puro, sem mistura; leal, franco, verdadeiro”. A palavra vem da expressão “sin cera”, ou seja, “sem cera”, como se intitulavam os vasos que eram vendidos em seu estado verdadeiro, sem que houvesse a aplicação de cera para esconder as fissuras, as falhas que existiam em alguns vasos.

 

 

- A “sinceridade” é um dos atributos indispensáveis para o verdadeiro servo de Deus. Quem considera o livro de Jó o mais antigo da Bíblia, vê que a primeira afirmação do texto sagrado é de que um homem que agradava ao Senhor era, antes de tudo, um homem sincero (Jó 1:1). Paulo recomenda que façamos festa com os asmos da sinceridade e da verdade (I Co.5:8).

 

- Pedro sempre foi um homem transparente, que mostrava o que estava a sentir, em todas as ocasiões, salvo no caso em que foi repreendido por Paulo em Antioquia. Mesmo antes de se converter, sempre demonstrou sinceridade e, por isso, podia dizer, com autoridade moral, que procurava despertar nos crentes, em suas cartas, o “ânimo sincero” (II Pe. 3:1).

 

- Precisamos ser transparentes, ser aquilo que realmente somos, sem fingimento, sem mentiras, sem falsidade. Deus reprova todos aqueles que adotam a hipocrisia, este grande mal que tem assolado a vida de muitos crentes. Não podemos ter o “fermento da maldade e da malícia” (I Co.5:8), mas dizermos aquilo que pensamos, falarmos sempre a verdade, ainda que isto venha a causar algum desconforto momentâneo. Não poderemos vencer o maligno, nesta vida tão difícil, se não cingirmos os nossos lombos com a verdade (Ef.6:14).

 

- Entretanto, é bom que se diga, só a sinceridade é insuficiente na vida de um salvo. É preciso que o salvo seja sincero, mas, quando vemos o testemunho que Deus dá de Jó, verificamos que a sinceridade é apenas o primeiro requisito de um servo de Deus. Faz-se preciso que, além de sincero, o homem seja também reto, temente a Deus e que se desvie do mal (Jó 1:1,8; 2:3). Se a sinceridade não é acompanhada de retidão, de temor a Deus e de desvio do mal, de nada adianta sermos sinceros.

 

- Pedro foi sincero desde o primeiro instante em que falou a Cristo. Na pesca maravilhosa, confessou-se um pecador e pediu que o Senhor Se ausentasse dele, demonstrando sinceridade, que foi várias vezes realçada pelo discípulo. Mas esta “sinceridade” nada representou enquanto não houve uma verdadeira conversão, enquanto Pedro não se dispôs a ser reto, temente a Deus e a se desviar do mal.

 

- A retidão vem ao homem através da fé em Cristo Jesus (Rm.5:1), a chamada fé salvadora, que vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17). Pedro era sincero, mas, enquanto só resolveu “tomar a palavra” e não ouvir, construiu sobre a areia, tendo sua edificação caído quando veio a grande prova, instante em que negou a Cristo por três vezes. Não basta sermos sinceros, mas é preciso que esta sinceridade seja misturada com a fé, sem o que a palavra que for ouvida será de proveito algum (Hb.4:2).

 

- A segunda lição que aprendemos com Pedro é a do dinamismo, outra característica destacada pelo ilustre comentarista. “Dinamismo” é “característica daquele ou daquilo que é enérgico, ativo; diligência, energia, vitalidade”. Pedro, pelo que vemos no texto sagrado, era uma pessoa bem disposta, que tomava a iniciativa quase todas as vezes. Assim, andou por sobre as águas, desembainhou a espada e cortou a orelha de Malco, como também se levantou entre os discípulos e pregou o primeiro sermão da Igreja.

 

- Esta iniciativa deve estar presente em cada um dos servos do Senhor. Temos de ser um povo “bem disposto” (Lc.1:17), pois toda a disposição procede do Senhor (Pv.16:33). OP Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16) e “poder”, em grego, é a palavra “dynamis”. “Dinamismo”, portanto, é a ação de quem tem “dynamis”, de quem tem “poder”. Pedro sempre tomou a iniciativa, tanto que as pessoas saíam e levavam os enfermos para as ruas, pois Pedro estava sempre a andar de um lado para outro, sem qualquer comodismo, em busca das almas a salvar. Era um verdadeiro “pescador de homens”, alguém que se “lançava ao mar alto” para ganhar almas para Cristo.

 

- Ter iniciativa, disposição, dinamismo é importante, desde que este poder seja o poder de Deus, desde que estejamos na direção do Espírito do Senhor. Tomar a iniciativa fora da vontade do Senhor, sem a direção divina, é tão somente “atrevimento”. As ações de Pedro antes de sua conversão nada mais são do que puro “atrevimento” e, por causa disto, não se sustentavam, pois o que advém da carne é passageiro, “fogo de palha”, para se utilizar de uma expressão popular muito conhecida.

 

- É inegável que, não fosse seu dinamismo, Pedro não teria sido a única pessoa na história, além de Jesus, a andar sobre as águas. Mas também não se pode negar que esta “ousadia” de nada valeu. Pedro morreria afogado não fosse o socorro do Senhor Jesus. Também não se pode deixar de reconhecer a valentia de Pedro ao enfrentar toda u’a multidão de soldados armados no jardim, quando da prisão de Jesus, mas isto nada representou quando, alguns instantes depois, teve Pedro de “enfrentar” uma simples criada.

 

- O dinamismo, a iniciativa, a ousadia devem ter a direção divina, estar no centro da vontade do Senhor. Hoje há muitos “atrevidos” nos púlpitos, nas reuniões das igrejas locais, mas muito poucos estão sendo dirigidos pelo Espírito de Deus. Seu “dinamismo” não serve, é de um Pedro não convertido, que resultado algum traz a não ser a vergonha e a derrota. Que saibamos ser ousados na presença do Senhor, mas de acordo com a Sua vontade, para glória do Seu nome. Não sejamos “atrevidos”, pois é o próprio Pedro quem diz que os tais não têm futuro promissor (II Pe.2:9,10).

 

- A terceira lição que temos com Pedro é a do arrependimento como início de uma verdadeira vida cristã. Enquanto Pedro não se arrependeu, não houve conversão. Toda a sua convivência com Cristo não foi suficiente para que alcançasse o novo nascimento. Era apenas “Simão”, o “ouvinte”, mas não praticante dos ensinos de Jesus. Quando, porém, se arrependeu, chorando amargamente, aí, sim, tornou-se “Pedro”, a “pedra viva de Cristo” (cfr. I Pe.2:5), uma casa espiritual e sacerdócio santo, que se encontra fundada na rocha, que é Cristo, que Se torna nosso fundamento e não pedra de tropeço.

 

- Não é possível sermos servos do Senhor se não nos arrependermos antes dos nossos pecados e crermos em Cristo Jesus. Qualquer outro modo de “geração espiritual” é pura ilusão, pois só quem é gerado pela “semente incorruptível”, pela “Palavra de Deus” (I Pe.1:23). Assim como Pedro foi somente “ouvinte” enquanto não se arrependeu, muitos estão nas igrejas locais, mas ainda não se converteram. Por isso, é tão necessário verificarmos se as pessoas produzem frutos dignos de arrependimento antes de as batizarmos nas águas, para que não venhamos a ter muitos “Simões” no meio do povo de Deus, enganando e sendo enganados.

 

- A quarta lição que temos com Pedro é o da obediência à Palavra de Deus, a quem deu primazia. Pedro, mesmo antes de se converter, sempre se mostrou obediente ao que Cristo lhe dizia. Na pesca maravilhosa, disse que lançaria a rede sob a palavra do Senhor e, mesmo já na parte final de seu ministério, não se esquecia de ensinar que a “palavra do Senhor permanece para sempre” (I Pe.1:25). Pedro fez sinais e maravilhas porque era alguém que se guiava pela Palavra de Deus, mesmo que, às vezes, não entendia o teor das Escrituras, como confessa com relação a alguns escritos de Paulo (II Pe.3:15,16).

 

- Pedro dava o devido valor às Escrituras, fazendo questão de dizer que elas eram inspiradas pelo Espírito Santo (II Pe.1:20,21), desmentindo assim os seus “supostos sucessores”, que, século após século, negam a primazia da Bíblia Sagrada, construindo uma “tradição” que sufoca a Palavra do Senhor. Pedro afirma, com todas as letras, a inerrância da Bíblia, a sua condição de Palavra de Deus, de única regra de fé e prática para a Igreja.

 

- Nos dias em que vivemos, porém, muitos são aqueles que não crêem mais na Bíblia, nem querem dela saber. Constroem fábulas, lendas e mitos e se aferram a eles, a fim de poderem pecar livremente. Amontoam, para si, doutores conforme as suas próprias concupiscências, não suportando mais a sã doutrina (II Tm.4:3,4). Pedro, porém, ensina-nos a seguir as Escrituras, a nos basear nelas, não só na nossa vida diária, mas também nas pregações. Como é bom lermos os sermões de Pedro, fundamentados todos nas Escrituras e não em “histórias da carochinha”, como, lamentavelmente, vemos nos dias de hoje.

 

- A quinta lição que aprendemos com Pedro é o de manutenção de uma vida de oração. Depois da sua conversão, vemos que Pedro se tornou um homem de oração. Pedro orou até ser batizado com o Espírito Santo, depois continuou a orar no templo, tendo, ao ser solto, logo ido para uma casa onde havia uma reunião de oração. Antes de comer na casa de Simão, o curtidor de Jope, estava a orar. Um homem dedicado à oração e, por isso mesmo, um instrumento nas mãos do Senhor para realizar sinais e maravilhas.

 

- Muitos querem, hoje, que suas sombras curem pessoas, mas, em vez de alterarem a iluminação de seus templos, para que se faça uma “sombra gigante” para atingir os crentes, deveriam dobrar seus joelhos e pôr seu rosto em terra para alcançarem poder de Deus. Pedro dava primazia à Palavra, pregava a Palavra e, por isso, o Senhor fazia com que a Palavra fosse confirmada com sinais e maravilhas, resultado de uma vida de oração (Mc.16:20). Assim procederam os pioneiros de nossa denominação no Brasil e tantos quantos, ao longo da história da Igreja, foram levantados pelo Senhor. Este é o caminho. Estamos dispostos a pagar o mesmo preço?

 

- A sexta lição que aprendemos com Pedro é a do equilíbrio na vida espiritual. Depois de ter se convertido, notamos que Pedro é um exemplo de equilíbrio, equilíbrio este sintetizado na sua última recomendação registrada no texto sagrado: “crescei na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (II Pe.3:18). Senão vejamos.

 

- Pedro diz que a vida do cristão é uma vida de contínuo crescimento espiritual. Um crente equilibrado é aquele que não pára de crescer, de se desenvolver espiritualmente. Pedro sabia bem quanto custara uma estagnação na vida espiritual, quanto custara a sua recusa em se submeter ao senhorio de Cristo. Devemos sempre, após ter um início genuíno, que é a geração espiritual, o novo nascimento, crescer indefinidamente, a fim de que possamos vencer o mundo e o pecado e alcançar a salvação, que é o fim de nossas almas.

 

- Este crescimento, porém, deve se dar em dois aspectos: graça e conhecimento. Não basta crescermos apenas na graça, tornando-nos fanáticos, sem visão espiritual, facilmente levados por qualquer vento de doutrina, por falta de consistência, de raiz espiritual (Mt.13:20,21; Ef.4:14). A vida de oração é uma necessidade, como vimos, mas não é suficiente por si só.

 

- Torna-se necessário crescermos no conhecimento, ou seja, é preciso que estudemos e meditemos na Palavra do Senhor, para que tenhamos consistência, raiz espiritual. Sem oração, o poder de Deus não se manifesta, não temos dinamismo nem iniciativa. Mas, sem conhecimento, não teremos firmeza espiritual. Crescer só no conhecimento nos fará intelectuais, sem fervor e sem experiência com Deus, meros ouvintes que não alcançarão a salvação.

 

- Mas o equilíbrio também é encontrado na expressão “Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Temos aqui, então, a sétima lição que Pedro nos deixa: para o genuíno cristão, Jesus é Senhor e Salvador. Pedro mostra-nos, com sua experiência pessoal, que não basta dizermos que Jesus salva, mas é necessário que também reconheçamos que Ele é Senhor e que, portanto, deve nos governar. Devemos nos submeter a Cristo, fazer a Sua vontade, não a nossa. Pedro é o único a utilizar a expressão “Senhor e Salvador” no texto sagrado (II Pe.1:11; 2:20; 3:2,18) e isto nos mostra quanto isto foi significativo na vida do apóstolo. Precisamos ter esta mesma concepção e, mais do que isto, esta mesma experiência.

 

IV – O QUE APRENDEMOS A NÃO FAZER COM PEDRO

 

- Como sempre temos feito ao longo deste trimestre, elenquemos também os contra-exemplos dados por Pedro, a fim de que, ao não repeti-los, também possamos melhorar os nossos caminhos diante do Senhor.

 

- O primeiro contra-exemplo que Pedro nos deixa é o de sermos tão somente ouvintes de Jesus Cristo. Durante mais de três anos, Pedro participou do colégio apostólico e, mais do que isto, do chamado “círculo íntimo do Senhor” tão somente como um “ouvinte”, como “Simão”. Não havia se convertido, apesar de todas as maravilhas, ensinos e palavras que recebia de Jesus.

 

- Apesar de toda a intimidade que o Senhor abriu para Pedro, este resistiu a se submeter ao Senhor, vendo-o como um Mestre, como alguém divino até, mas se recusando a se render a Ele incondicionalmente. Servia a Deus “do seu jeito”, baseando-se na carne e não no espírito. Na hora crucial, sem estar no centro da vontade de Deus, negou a Cristo, fracassando de modo retumbante.

 

- Infelizmente, não são poucos aqueles que têm servido a Cristo da mesma maneira que “Simão”, como simples “ouvintes”, que ouvem mas não compreendem a Palavra de Deus, comportando-se como insensatos (Mt.7:26,27). São pessoas que não nasceram de novo e que, se não se arrependerem, terão um triste fim: a perdição. Que Deus nos guarde para que não sejamos deste grupo, grupo que, infelizmente, constitui “quase todos” os que dizem professar o nome do Senhor na atualidade (Mt.24:12 ARA), “a maior parte dos homens” (Mt.24:12 TB).

 

- O segundo contra-exemplo que Pedro nos deixa é o da dissintonia com a vontade de Deus. Pedro era sempre um “crente” que, ou estava aquém da vontade do Senhor, ou além dela, nunca no centro da Sua vontade, até o momento de sua conversão. Devemos estar no centro da vontade do Senhor, ela tem de prevalecer em nossas vidas. Por isso, até, Jesus nos ensinou a isto pedir ao Pai (Mt.6:10).

 

- Os dias hodiernos são dias em que se ensina que o crente pode fazer a sua vontade, pois Deus seria obrigado a satisfazê-la. Nada mais enganoso. Não estamos aqui para impedir que Jesus lave nossos pés ou, então, para que Ele nos dê um banho completo, mas para fazer a Sua vontade, sem questionamento, em total submissão. Ele é nosso Senhor e Salvador, como Pedro, posteriormente, aprendeu e nos ensinou. Que nada queiramos a não ser o que o Senhor queira.

 

- O terceiro contra-exemplo que Pedro nos deixa é o da confiança na força e na violência. Pedro era um homem impetuoso, impulsivo, que confiava na força e na violência. Cortou a orelha do servo do sumo sacerdote, andava armado com espada, acreditava na sua habilidade, chegando, mesmo, a andar sobre as águas. Todavia, toda esta força e violência de nada lhe serviram. Não foi capaz de enfrentar uma simples criada quando confrontado com o fato de ser discípulo de Jesus, nem tampouco pôde continuar a andar sem se afogar por sobre as águas. A confiança na força, na violência e a própria auto-confiança só dão causa ao fracasso e à vergonha. Entreguemos nosso caminho ao Senhor, confiemos nEle e Ele tudo fará (Sl.37:5).

 

- O quarto contra-exemplo que Pedro nos deixa é o da inconstância. A inconstância é a conseqüência de se viver fora da vontade do Senhor, bem como de se confiar em si mesmo ou na força ou violência. Até a sua conversão, Pedro era inconstante.Num momento, conseguia ser o único discípulo que conseguia ter uma revelação divina profunda, como o da identidade espiritual de Cristo, mas, logo em seguida, era precisamente quem se punha à disposição do inimigo para tentar dissuadir Jesus de cumprir a Sua missão. Altos e baixos são freqüentes na caminhada de Pedro com Cristo, a ponto de o inimigo ter querido “peneirá-lo” como o trigo. A vida espiritual deve ser de constância e firmeza, o que se obtém somente por uma vida de oração e de meditação na Palavra do Senhor (I Co.15:58).

 

- Como são numerosos os inconstantes nas igrejas locais de hoje em dia ! São “fogo puro” na hora do culto e, no dia seguinte, estão totalmente vazios, sem força sequer para enfrentar a mais simples tentação. Profetizam, falam em línguas estranhas, choram, pulam, alegram-se espiritualmente à noite e, de manhã, praticam as mais vergonhosas coisas que se têm notícia. Por quê? Porque, assim como Pedro, são inconstantes, são guiados pela carne, não pelo Espírito.

 

- O quinto contra-exemplo que Pedro nos deixa é o que denominaremos de “indevido vicariato”. Se houve uma vez em que Pedro se portou como “vigário de Cristo” (i.e., substituto de Jesus, que é o falso ensino romanista que procura justificar o Papado), isto se deu na escolha de Matias como o “décimo segundo apóstolo”. Pedro aqui quis se substituir a Jesus, levando os apóstolos a escolher alguém para o lugar que havia sido deixado vago por Judas Iscariotes.

 

- Em momento algum, Jesus havia dito aos discípulos que deveria ser escolhido um substituto para Judas Iscariotes, apesar de ter dito que este era o que o havia de trair. A iniciativa de Pedro, portanto, mostrou-se desarrazoada, tanto que a forma de escolha se deu de modo estranho, mediante lançamento de sortes, sem qualquer atuação do Espírito Santo. Pedro estava muito mais preocupado que o Senhor no fato de haver um “lugar vago”, esquecendo-se que a Igreja era de Cristo e que cabia a Ele tal iniciativa.

 

- Muitos hoje, também, têm exercido o “indevido vicariato” e, por circunstâncias várias, têm posto nas igrejas locais pessoas que não foram chamadas pelo Senhor, pessoas que são resultado das “sortes”, mas não do chamado do Espírito Santo. Tomemos cuidado para que isto não ocorra em nosso meio, pois a obra é de Deus e tudo que é feito sem a direção do Espírito não tem como prosperar.

 

- O sexto contra-exemplo que Pedro nos deixa é o da resistência cultural. Pedro, para poder ir à casa de Cornélio, teve de ter uma revelação insistente da parte do Espírito Santo e, mesmo assim, ao entrar na casa do centurião, considerou que o que estava a fazer não era lícito (At.10:28). Somente batizou nas águas Cornélio e sua família, porque Jesus os batizara com o Espírito Santo. Mostrou, desta maneira, que muito esforço foi necessário para que superasse os limites estabelecidos pela sua cultura, não pelo Evangelho. Este é um grande risco que também vivemos: o de que nossas tradições sufoquem o Espírito Santo, a Palavra de Deus (Mt.15:6). Mesmo após estas demonstrações inequívocas por parte do Senhor, Pedro ainda teve um comportamento repreensível em Antioquia, que o fez passar vergonha diante de todos os crentes (Gl.2:11-14).

 

- Muitos assim se conduzem na atualidade. Não conseguem diferenciar o que é cultural, e, portanto, humano, do que é divino. Cultura é humana e, como tal, passageira, limitada no tempo e no espaço. Já a Palavra de Deus não muda, permanece para sempre, nunca há de passar. Devemos, portanto, respeitar as culturas, entendê-las e mantê-las, transformando apenas aquilo que é pecaminoso, não por força, nem por violência, mas pelo Espírito de Deus.

 

- O sétimo contra-exemplo que Pedro nos deixa é, precisamente, o da dissimulação, que é a “ocultação, por um indivíduo, de suas verdadeiras intenções e sentimentos; hipocrisia, fingimento”. Embora tenha sido sincero em quase todas as ações, em Antioquia, Pedro, querendo contentar os judaizantes, teve um comportamento dissimulado, passou a não mais comer com os gentios, o que antes fazia. Devemos ser sinceros, manter nossas atitudes, e, ainda que seja bom nos comportarmos de modo a não escandalizarmos os fracos na fé, não podemos, de modo algum, considerar que isto seja uma válvula de escape para termos comportamentos diferentes, “dançarmos conforme a música”, para nos utilizarmos de mais uma expressão popular.

 

- Hoje em dia, muitos são os que assim procedem. São pessoas que têm duplo, triplo, enfim, múltiplo comportamento. Dependendo de onde estão, portam-se de um modo diferente, dissimulando sua conduta. Não podemos ser assim, mas é imperioso que sejamos sinceros e pessoas de um só porte, de uma só conduta. Que Deus nos guarde da dissimulação!

 

Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco é Presbítero na Assembléia de Deus, Belenzinho - São Paulo, professor de Escola Bíblica Dominical e colaborador do Portal Escola Dominical.

Publicado no site Portal Escola Dominical (https://www.escoladominical.com.br/dicas1.asp?cod_dt=97&cod_dia=2105)

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