PERSONAGEM DA SEMANA >> ANANIAS E SAFIRA

08/12/2016 10:06

 

 

 

Sejam Honestos – A História de Ananias e Safira

 

“Temos um ao outro e isso é tudo o que importa”, gabava-se o casal de pombinhos logo após a cerimônia de casamento. Mas não ia demorar muito para eles descobrirem que não é bem assim. Nenhum marido e nenhuma esposa cristã podem viver isolados. Eles fazem parte de uma unidade maior chamada o Corpo de Cristo (Efésios 1:22-23), a família da fé (Gálatas 6:10), a família de Deus (Efésios 2:19). A família de Deus é muito maior do que qualquer unidade familiar individual e rapidamente aprendemos que nossa relação com essa família espiritual maior afeta a nossa relação como marido e mulher. Isso nunca foi tão óbvio quanto na história de Ananias e Safira.

 

Ananias e Safira viveram no período de maior pureza e poder da igreja. Por isso, vamos considerar, em primeiro lugar, a situação da igreja na emocionante era apostólica: “Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum” (Atos 4:32). Isso é simplesmente impressionante. Àquela altura, o número de crentes provavelmente chegava a cinco mil ou mais e, mesmo assim, eles eram um só coração e uma só alma. Na Escritura, algumas vezes o coração é usado para se referir, em um sentido mais amplo, à parte não material do ser humano, incluindo tanto o coração quanto a alma. No entanto, diferente da alma, o coração, aqui, provavelmente se refira somente ao espírito, a faceta mais íntima da constituição humana, o centro do seu ser, ao qual Deus Se revela e no qual Ele habita. Aqueles primeiros cristãos sentiam um vínculo espiritual no nível mais profundo da sua vida. Seu espírito estava entrelaçado com a vida e o amor de Cristo. Eles sabiam que pertenciam uns aos outros como irmãos e irmãs em Cristo.

 

Mas a Escritura não para por aí e diz também que eles eram uma só alma, e isso é uma coisa totalmente diferente. A alma é a força consciente de um homem, sua personalidade, a qual consiste da mente, das emoções e da vontade. É nesse nível que o ser humano pensa, sente e faz escolhas. Essa é a área da experimentação. Aqueles primeiros cristãos não apenas eram um por causa da sua posição em Cristo, mas eram um também na prática. Eles pensavam do mesmo jeito, tinham profundo sentimento uns pelos outros e tomavam decisões que refletiam seu cuidado e preocupação mútuos. Eles não participavam do culto e depois iam pra casa, esquecendo-se dos irmãos e irmãs em Cristo. Uma vez que a congregação era tão grande, mesmo se reunindo no átrio do templo, eles também se reuniam nas casas, em unidades menores, para se conhecer, crescer em amor uns pelos outros e cuidar dos problemas e das necessidades uns dos outros (cf. Atos 2:46).

 

A preocupação mútua ia muito além daquilo que se referia às suas carteiras – era um cuidado real! Eles entendiam que todas as suas posses vinham de Deus, tendo sido dadas a eles não para seu uso exclusivo, mas para serem compartilhadas uns com os outros. Não havia qualquer tipo de coerção. Qualquer crente era livre para ficar com seus bens, se assim o desejasse, e ninguém o considerava inferior por causa disso. No entanto, a maioria vendia suas propriedades e dava o dinheiro aos apóstolos para ser distribuído àqueles que, provavelmente, tinham perdido o emprego devido à sua fé. Eles abriam mão do seu próprio bem-estar e das suas comodidades para o bem de todos. 

 

O resultado desse espírito desprendido foi grande bênção e poder sobre toda a igreja: “Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça” (Atos 4:33). Uma congregação onde há cuidado mútuo é uma congregação forte, pois a genuína expressão do amor de Deus é colocada em prática. Jesus disse que esse tipo de amor seria a marca dos verdadeiros discípulos (João 13:35), e onde ele está presente, atrai as pessoas como um oásis no deserto.

E atraiu um casal chamado Ananias e Safira. Eles faziam parte daquela poderosa e diligente comunidade de crentes. O nome Safira significa “bela” ou “agradável” e é o mesmo nome dado àquela pedra preciosa de cor azul-violeta. Ananias significa “Jeová é gracioso”, e Deus certamente foi gracioso para com ele. Ele lhe deu uma linda esposa, abençoou-o com bens materiais, perdoou-lhe os pecados e o levou à comunhão com pessoas que realmente se preocupavam com ele. Isso é muito mais que um homem pode desejar.

 

Ananias, no entanto, queria mais, e Safira também. Eles queriam mais aceitação; queriam aplausos. Eles não queriam ser apenas membros do Corpo; queriam ser membros ilustres do Corpo. Queriam o louvor dos homens. E isso nos leva ao nosso segundo ponto, ao pecado de Ananias e Safira. Crentes dedicados e altruístas muitas vezes são alvo da admiração e do apreço de outros cristãos. Se forem pessoas espirituais, não são motivadas pelo desejo de receber elogios e aplausos dos homens, mas às vezes os recebem. Na igreja primitiva, as pessoas que vendiam suas propriedades e davam o dinheiro à igreja provavelmente recebiam muitos elogios de toda a congregação. Barnabé foi um daqueles que sacrificou tudo (Atos 4:36-37). Ele não o fez para se exibir. Não havia vestígio de orgulho carnal naquilo que ele fez. Ele só pensou na necessidade dos outros cristãos e na glória de Deus. Mas o reconhecimento estava lá. Ananias e Safira viram isso e quiseram ter o mesmo, e foi aí que seus problemas começaram.

 

Cobiçar o louvor dos homens é evidência suficiente de que eles estavam agindo de acordo com sua natureza carnal, não no Espírito. Contudo, isso fica ainda mais evidente quando ficamos sabendo que eles depositavam sua esperança para o futuro na sua conta bancária, não no Senhor. Eles não conseguiram fazer o que os outros fizeram – dar todo o seu dinheiro para Deus e confiar somente na Sua fidelidade para suprir as suas necessidades. Eles tinham de ter aquele dinheiro. E estas duas expressões de carnalidade, o desejo de reconhecimento e a confiança em coisas materiais, se tornaram um grande dilema para eles. Como poderiam receber o tão almejado reconhecimento sem depositar todo o montante da venda no altar do sacrifício? Mas eles, finalmente, acharam uma solução. Trapaça!

 

“Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos” (Atos 5:1-2). Eles bolaram um plano para reter para si uma parte do dinheiro recebido pela propriedade e levar o restante para os apóstolos. Eles não disseram, necessariamente, que estavam dando a quantia total recebida; simplesmente deixaram que todos presumissem isso. E pronto, o reconhecimento como crentes espirituais e abnegados que entregaram tudo a Jesus foi instantâneo! 

 

Mas o que havia de errado com seu plano? Eles não mentiram realmente pra ninguém, mentiram? Eles apenas deram o dinheiro e não disseram o quanto aquilo representava do total. Eles não tinham culpa pelo pensamento dos outros, tinham? É óbvio que tinham. Pedro, com incrível discernimento divino, atribuiu sua farsa a Satanás e disse que eles mentiram para o Espírito Santo (Atos 5:3). Ele lhes explicou que eles não tinham a obrigação de vender sua propriedade. E, mesmo depois de vendê-la, não tinham a obrigação de dar todo o dinheiro à igreja. Mas eles tinham a obrigação de serem honestos (Atos 5:4). O maior pecado de Ananias e Safira foi sua desonestidade, sua farsa, sua hipocrisia, seu fingimento, mostrando uma falsa imagem de si mesmos, implicando em maior espiritualidade do que realmente possuíam, deixando os outros pensarem o melhor sobre eles. Eles estavam mais interessados nas aparências do que na realidade. Pedro disse: “Não mentiste aos homens, mas a Deus” (Atos 5:4).

 

Alguma vez você já se perguntou como era o relacionamento entre Ananias e Safira? Embora tenham demonstrado uma incrível parceria em sua farsa, sua hipocrisia não podia deixar de afetar seu casamento. Quando as aparências são mais importantes para nós que a realidade, normalmente, as pessoas com quem convivemos sofrem por causa disso. Diante dos outros, escondemos a maioria das nossas atitudes carnais, mas, por detrás das quatro paredes da nossa casa, a nossa tendência é deixar à mostra todos os nossos defeitos – toda raiva, todo mau-humor, todas as grosserias e falta de respeito, todo egoísmo, todo orgulho, todo comportamento infantil. Por causa disso, muitos lares cristãos estão cheios de brigas e conflitos. No entanto, quando alguns cristãos preocupados, querendo nos ajudar, perguntam como estão indo as coisas, logo respondemos: “Vai tudo bem, está tudo ótimo. Nunca estivemos melhor”. E justificamos a nossa desonestidade dizendo a nós mesmos que o que acontece na nossa casa é problema nosso e não é da conta dos outros. Mas a desonestidade só aumenta o peso da culpa, a culpa leva a mais atitudes defensivas e irritabilidade, e a irritabilidade causa maior divergência e discórdia em nosso lar. Essa é uma das armadilhas prediletas de Satanás.

 

O desejo carnal de receber louvor e preeminência demonstrado por Ananias e Safira também pode afetar a relação matrimonial de uma outra forma. Ele faz com que cada parte passe a competir de forma egoística pela supremacia e queira mais para si mesmo do seu relacionamento. Cada um dá de si só para receber algo em troca e, geralmente, fica de olho no quanto recebe. Se achar que está em desvantagem, briga e reclama até conseguir o que pensa merecer. Ambos mantém um registro de quem dá mais, de quem recebe mais atenção, de quem é mais compreensivo, de quem tem mais falhas ou de qualquer outro ponto de discórdia. A necessidade de cada parceiro parecer melhor que o outro o faz mascarar sua verdadeira personalidade e, assim, entrincheirar-se ainda mais em sua miserável hipocrisia.

 

Precisamos ser honestos. Precisamos nos comprometer a ser absolutamente sinceros e transparentes. Esta é a única maneira de escapar dessa armadilha satânica. Quando admitimos nossos verdadeiros sentimentos e motivações para outra pessoa, quando reconhecemos realmente os nossos erros e quando lhe pedimos para orar por nós, isso nos dá coragem para pedir o poder de Deus para mudar. Sabemos que algum dia essa pessoa irá nos perguntar como estão indo as coisas e que teremos de lhe dizer a verdade. Vamos querer estar prontos quando esse dia chegar, pois com nosso crescimento sincero virá uma crescente preocupação com a glória de Deus e com o testemunho da igreja de Cristo. Portanto, vamos deixar o Espírito de Jesus Cristo operar em nós para nos tornar mais parecidos com Ele. Só assim seremos capazes de parar de jogar o jogo das aparências. Só assim seremos autênticos!

 

Pra começar, marido e mulher podem ser honestos um com o outro. Podem admitir ao parceiro o que se passa dentro deles e, então, se encorajar mutuamente e orar pelas fraquezas um do outro. Eles também precisam ser honestos para com Deus. Quando estão errados, mesmo que estejam cometendo os mesmos erros, eles precisam reconhecê-los abertamente diante do Senhor e parar de ficar se justificando. Só assim serão capazes de crescer espiritualmente. Ananias e Safira podem ter concordado em seu plano fraudulento, mas é óbvio que nunca admitiram sua pecaminosidade um para o outro, nem para Deus. Quando marido e mulher se tornam parceiros no fingimento, um dia isso os destruirá.

 

Vejamos, finalmente, a importância da disciplina aplicada a eles. Pedro não invocou o julgamento do céu, como algumas pessoas supõem. Ele simplesmente expôs a hipocrisia de Ananias pelo discernimento que lhe foi dado por Deus. “Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou” (Atos 5:5). Foi a disciplina da mão de Deus. “Levantando-se os moços, cobriram-lhe o corpo e, levando-o, o sepultaram” (Atos 5:6). Não sabemos como eles o sepultaram sem o conhecimento de Safira, mas, naquela época, os corpos tinham de ser enterrados logo e talvez eles não a tenham encontrado naquele momento. Ela pode ter saído para fazer compras, para gastar um pouco do dinheiro sonegado.

 

Três horas mais tarde, ela chegou procurando o marido, sem saber o que tinha acontecido. Pedro deu-lhe oportunidade para ser honesta. “Dize-me, vendestes por tanto aquela terra?”, perguntou ele, citando a quantia entregue por Ananias. Safira preferiu continuar mantendo a farsa iniciada pelo marido. Sem hesitar, ela respondeu: “Sim, por tanto” (Atos 5:8). E Pedro lhe disse que ela teria o mesmo destino sofrido por Ananias.

 

Ficamos amedrontados diante de uma ilustração tão extrema da disciplina divina. Até podemos ficar tentados a dizer que Deus foi severo demais. No entanto, por que Ele fez isso? Ele não parece agir assim hoje em dia. E como somos gratos por isso! Mas, naquela época, era diferente. Aquele era o início da igreja. Até aquele momento ainda não havia ocorrido nenhuma demonstração tão crassa de carnalidade e Deus abominou o dia em que ela se introduziu na igreja. Desde o princípio Ele queria que todos soubessem o quanto Ele odeia a hipocrisia, e que isso fosse conhecido em todas as épocas. Essa é a razão pela qual Ele colocou essa história em Sua Palavra.

 

Espiritualidade fingida é uma coisa contagiosa. Quando um cristão vê outro cristão agir dessa forma e se sair bem, não vê problemas em tentar também. E, para cada membro que age no poder da carne em vez de no poder Espírito, para cada um que vive para receber o louvor dos homens em vez de viver para a glória de Deus, a eficácia da igreja de Cristo vai diminuindo cada vez mais. Se Deus tivesse permitido a Ananias e Safira levar adiante a sua farsa, isso teria destruído o testemunho da igreja primitiva. Ele tinha de agir naquela hora.

 

Infelizmente, os anos têm diluído a pureza da igreja e, estando tão longe da singularidade da era apostólica, podemos achar difícil até mesmo reconhecer a nossa própria hipocrisia. Nós pensamos que hipocrisia é um esforço deliberado e calculado para enganar os outros, como foi com Ananias e Safira, e talvez façamos isso de forma inconsciente. Podemos simplesmente cair no hábito involuntário de proteger nossa aparência de santidade, encobrindo os nossos defeitos e escondendo das pessoas o que se passa dentro do nosso coração e do nosso lar. Geralmente isso é mais fácil do que nos entregarmos totalmente a Cristo, deixando-O viver em nós para fazer as mudanças que desejar. Esta forma de hipocrisia tem se tornado um estilo de vida na igreja de Jesus de nossos dias e talvez seja o motivo pelo qual não estejamos causando grande impacto em nossa sociedade incrédula.

 

Uma grande questão que paira sobre a nossa cabeça depois de termos descortinado a vida de Ananias e Safira é: o que é mais importante – manter a aparência de espiritualidade ou sermos realmente aquilo que Deus deseja de nós? Cultivar só a aparência conduz à morte – morte para o crescimento espiritual, morte para sermos úteis na família de Deus e morte para um relacionamento melhor entre marido e mulher. Por outro lado, o Espírito de Deus pode usar a sinceridade para produzir em nós a vida de Cristo, e isso significa vida abundante, alegria constante e bênçãos sem medida.

 

FONTE:

https://bible.org/node/24072