PARÁBOLAS => DO VESTIDO VELHO E DOS ODRES VELHOS
Parábola do vestido velho e dos odres velhos
(Mt 9:16,17)
Falando com as mesmas pessoas, referindo-se aos mesmos religiosos, com cuja política não simpatizava, Jesus usou as figuras do vestido e dos odres remendados para realçar seu ensino sobre a natureza do reino. "Aos contrários à alegria dos seus discípulos, Jesus respondeu que a verdadeira alegria era inevitável enquanto estivesse com eles; e que todo o sistema que ele estava criando não era algo saturado de coisas velhas, mas totalmente novo." Ellicott acredita que há íntima relação entre essa parábola ilustrativa e a anterior: "A festa nupcial sugere a idéia das vestes nupciais e do vinho, que pertenciam ao seu regozijo. Podemos ainda ir um passo além e acreditar que mesmo os vestidos dos que se sentaram para comer na casa de Mateus, originários das classes humildes e menos favorecidas, tornam a ilustração mais palpável e vivida. Como poderiam aquelas vestes desgastadas ser adequadas aos convidados do casamento? Seria suficiente costurar pedaços de tecido novo onde o velho vestido estava rasgado? Não é assim, ele responde; não é assim, ele responde de novo, quando implicitamente representa o rei que deu a festa e forneceu a roupa adequada" (Mt 22:2).
Os odres de que Jesus falou eram de pele ou couro de animais, feitos em diversos moldes e utilizados como garrafas. Ninguém pensaria em pôr vinho novo num odre velho que já perdeu a elasticidade. "Esse vinho certamente se fermentaria e arrebentaria qualquer odre, quer novo, quer velho. O vinho não fermentado deve ser posto em odres novos.' Quando se completa a fermentação, o vinho pode ser colocado em qualquer odre, novo ou velho, sem danificar o odre ou o conteúdo." Ressecados pelo tempo e propensos a rupturas, os odres velhos não suportariam a pressão da fermentação do vinho. Desse modo, exigia odres novos.
Não é difícil buscar a interpretação dessa parte da parábola. Cristo praticamente anula a antiga lei levítica e oferece o decreto da nova liberdade. Forçar os seus novos ensinos sobre fórmulas antigas traria decomposição e ruína. Tomar as suas verdades e procurar colocá-las em qualquer outro formato diferente dos seus, seria como estragá-las como um vinho não fermentado. A nova energia e dons do Espírito, dados no dia de Pentecostes, são comparados ao vinho novo (At 2:13). Os antigos fariseus, contudo, persistiam, pois achavam que o velho vinho da lei era melhor (Lc 5:39).
O mesmo princípio se aplica ao costurar tecido novo em vestidos velhos e desgastados. Remendar é algo comum, como toda mãe sabe. Mas aqui não se aplica ao modo normal de consertar uma vestimenta. A velha roupa da nossa vida, pecadora e egoísta, não pode ser remendada. Cristo exclui qualquer obra repara-dora. Precisa haver regeneração, ou a produção de uma nova roupa ou criatura. Por "pano novo" devemos entender um pedaço de tecido não encolhido, que não passou por inúmeras lavagens. Refere-se a uma roupa nova, limpa e não amarrotada. Esse pedaço de pano não serve de remendo ao vestido usado, pois, no primeiro esforço, rasgaria o tecido ao redor e resultaria em ruptura ainda pior.
Cristo não ensina que a vida jamais pode ser uma mistura, resultante do seguir a dois princípios opostos? Não ilustrou a singeleza de princípios e motivos que Paulo enfatizou mais tarde quando disse: "Para mim o viver é Cristo"? Devemos ser simples e singelos em todos os nossos motivos. Não podemos servir a dois senhores (ter duas cordas em nosso arco; confiar [para a salvação] em Jesus e em nossas próprias obras; misturar lei e graça; seguir ao mundo e a Cristo ao mesmo tempo). Se o "vinho novo" representa o aspecto interno da vida cristã, então o "pano novo" ilustra a sua vida externa e as conversações. A fé se evidencia pelo comportamento. O vestido velho é a vida comum dos pecadores —o vestido novo é a vida de santidade, usada pelo novo homem em Cristo. Nessa narrativa, o jejum, que os fariseus tanto praticavam, era um vestido velho, para o qual seria inútil um pedaço de pano novo. Todo o sistema que Jesus veio criar não era algo impregnado numa velha ordem, mas algo novo. Ele não poderia, então, colocar numa fórmula desgastada as novas verdades que veio ensinar. Não é uma bênção saber que seu ministério transformador continuará até que passem as coisas velhas, e que tudo se faça novo?
do livro:
Todas as parábolas da Bíblia, de Herbert Lockyer, Ed.Vida.
Fonte:
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