PACTO DE LAUSANNE - O que é?

07/02/2015 00:11

 

PACTO DE LAUSANNE - Comentário de Jonh Stott

 

Lausanne, 30 anos depois - Ricardo Wesley Borges - Secretário Geral da ABUB

 

        Em 1974 houve um Congresso Mundial de Evangelização em Lausanne, do qual resultou um documento chamado Pacto de Lausanne no final da década de 80. Ricardo Wesley Borges utilizou tal documento para aprofundamento dos estudos e compreensão das Escrituras com relação ao trabalho missionário. Wesley entendeu que a fé não exigia separação entre dimensão da salvação pessoal do indivíduo e de uma adequada preocupação integral com o ser humano em seu todo, e com as questões que afetam o mundo em que vivemos, pois o Evangelho afeta todas as dimensões da vida. Pacto de Lausanne: documento produzido durante um congresso na Suíça que contou com 2.700 participantes, vindos de diferentes regiões do planeta. Marco que moldou mais de uma geração de líderes da igreja de vários continentes.

 

        Uma história emocionante

Em meio à crise do café, Joaquim lutava na década de 30 para sustentar sua família. Ao se defender de uma tocaia, fere o vizinho com um tiro e o deixa com sérias seqüelas e um processo contra si por perdas e danos. Morre de um ataque cardíaco ao saber que teria que pagar uma indenização e perder as terras que cultivava o café. Eulália, grávida do sexto filho, fica viúva com um futuro incerto e sombrio. Havia uma igreja Presbiteriana que ajudava na medida do possível os necessitados com comida, remédios e amizade. Esta igreja apoiou o luto de Benedita, que enterrara sua filha por ter sido morta com pneumonia asmática. Essa forma de tratar da igreja comove Benedita, que ouve o Evangelho e decide batizar. Lembra de Eulália, que precisava conhecer aqueles crentes. Na igreja, cada membro, com suas habilidades, dispensa ajuda para Eulália: dentista, cabeleireiro, e emprego para os mais velhos. A família se vê reconstruída, e conta com o amor redentor e transformador de Deus. Eulália volta-se para o Senhor e decide educar seus filhos nesse evangelho que a alcança em todas suas necessidades.

O evangelho tem que chegar de maneira integral e redentora. Não havia o Pacto de Lausanne nesta época, mas havia o evangelho que inspirou o pacto, além da influência de outros movimentos da igreja de Cristo que ao longo da história procuraram não fazer dicotomia entre evangelização e a ação social consciente e transformadora.

 

        Você já ouviu falar do pacto de Lausanne?

Ricardo Wesley Borges descreve como surgiu o Pacto de Lausanne: Graduados das mais diversas áreas vindos do mundo todo, reuniram-se para estudar teologia, procurando um melhor preparo para o trabalho missionário a ser realizado em contextos variados. João era um dos brasileiros a participar do estudo latino-americano de teologia e contribuiu com comentários temperados a partir de sua preocupação acerca dos inúmeros problemas sociais. Perguntaram se ele se guiava pela teologia da libertação. (Teologia da libertação- Surgiu nos países de 3º mundo e toma como ponto de referência a experiência dos pobres e sua luta pela libertação e o caminho da igreja ao lado dos oprimidos. Deus toma partido dos pobres de um modo especial). João estudou na Inglaterra na Faculdade Cristã Todas as Nações e aprendeu a refletir sobre a missão de uma maneira sistematizada. Então, na Inglaterra, Ricardo Wesley ouve falar do documento chamado Pacto de Lausanne, vinte anos após a redação deste documento, que diz que evangelização e ação social são ambos parte do nosso dever cristão. Este documento, escrito na Suíça, produz uma agenda importante de reflexão e ação quanto à responsabilidade social.

 

Para refletir: De que maneira esse Pacto de Lausanne, desconhecidos de tantos em nossas igrejas evangélicas brasileiras, pode ser apontado como uma referência importante para nossa pauta de reflexão e ação?

 

O Pacto de Lausanne não foi vanguarda de um processo de reflexão teológica que incluía uma agenda importante de compromisso social, mas teve um alcance e influência mundial a respeito da agenda de missão. Houve influência no processo de reflexão pré-Lausanne e na redação final do Pacto. Desde a realização do Primeiro Congresso Latino-americano de Evangelização (Clade I, 1969) e depois com a criação da Fraternidade Teológica Latino -Americana (1970) reconhece-se que teólogos evangelicos latino-americanos começaram a influenciar o debate teológico e missiológico em nível mundial, e tal influência foi sentida na preparação, execução e desdobramento do Pacto de Lausanne.

O congresso foi um momento em que o mundo ouviu a voz dos teólogos latino-americanos, tomando expressões de suas palestras e citando-as literalmente no Pacto de Lausanne.

Duas palestras proferidas em Lausanne: A evangelização e o Mundo, com René Padilha e A Evangelização e a Busca Humana da Liberdade, Justiça e Realização Pessoal com Samuel Escobar. Abordagens que levam a sério a integridade do evangelho, procurando fazer pontes reais com os desafios que nosso mundo nos apresenta. Se Lausanne não era novidade, em que sentido seu pacto se torna um marco importante? Na maneira como ele aponta a possibilidade de, dentro de um contexto de bases de fé consideradas evangélicas, encontrar uma referência sólida e bem fundamentada acerca da importância da atuação da igreja no mundo. Lançaram-se bases importantes para atuação missionária evangélica séria, engajada e comprometida com o que se convencionou chamar de teologia da missão integral.

 

Parágrafo 5º do Pacto: Parágrafo tido por Ricardo Borges como o mais importante.

"Afirmamos que Deus é o criador e juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela reconciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de toda forma de opressão. Sendo o ser humano feito à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, classe social, cor, cultura, sexo ou idade, possui uma dignidade intrínsica em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos, às vezes, considerado a evangelização e a ação social mutuamente incompatíveis. Embora a reconciliação do homem com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social e a evangelização, nem a libertação política e a salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são parte do nosso dever cristão. Ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, do nosso amor para com o próximo e da nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem de salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando alguém recebe a Cristo, nasce de novo no seu reino, e, conseqüentemente, deve buscar não somente manifestar como também divulgar a sua justiça em meio a um mundo ímpio. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta."

 

        DEPOIS DE LAUSANNE

Por influência deste, vários outros eventos foram realizados, buscando aprofundar questões e definir agendas específicas de atuação. Dentre esses eventos, aconteceu o Congresso Missionário da ABUB em 1976, em Curitiba, sob o tema Jesus Cristo, senhorio, propósito e missão, de onde saíram iniciativas missionárias pioneiras, como equipes de fazedores de tendas e grupos de trabalhos de áreas afins, gerando ministérios efetivos que atuam até hoje de maneira significativa, servindo a igreja evangélica brasileira, em 1983, em Belo Horizonte, onde havia o compromisso assinado pelos seus dois mil e poucos participantes, numa clara referência ao congresso de Lausanne.

 

        PARA ALÉM DE LAUSANNE

Novas gerações podem ser não apenas reproduzidas, mas também desafiadas a aprofundar seus questionamentos para, à luz da Palavra de Deus, responder aos desafios de sua época de maneira criativa e obediente ao Senhor.

 

        Desafios da Igreja Evangélica, segundo Ricardo Wesley:

 

. É preciso recuperar a unidade da igreja na prática de nossa missão, ultrapassando nossas estreitas fronteiras denominacionais, deixando de lado interesses particulares e pessoais de projeção e poder, e deixando de enfatizar tanto nossas diferenças de método ou outras, que às vezes chamamos de doutrinárias, mas que, na verdade, escondem nossas agendas e ambições.

 

. Devemos aprofundar nosso conceito de missão integral, passando do discurso para a vivência, colocando a mão na massa, atuando e intervindo de maneira ousada e criativa diante das oportunidades e das imensas janelas de necessidade que se vislumbram em uma realidade tão problemática e carente como a nossa. Só poderemos falar de um avivamento no Brasil quando percebermos que questões espinhosas de nosso país, como o tráfico de drogas, a corrupção, o abuso e exploração de crianças, entre outras, forem radicalmente mudadas a partir da atuação da igreja de Cristo.

 

. É preciso assumir riscos desse envolvimento. Se continuarmos fugindo, não faremos jus à importância da tarefa que o Senhor Jesus deixou para a sua igreja. Para evitar os desvios que nos levam para longe de Deus e de sua vontade, urge resgatar uma prática de leitura e interpretação da Palavra que é, ao mesmo tempo, apaixonada, comprometida, comunitária e fiel ao seu ensino todo, que nos conduz a uma devoção mais íntima ao Senhor e que nos leva inexoravelmente a obediência.

 

. Devemos resgatar o caráter profético de nossa missão (denunciando todas as formas do mal e anunciando a justiça de Deus), assim como recuperar a dimensão de encarnação e serviço mostrada a nós por Jesus, que apontou ser esse o paradigma que ele deseja quando nos envia ao mundo (Jo 17:18).

 

. Não permitir que haja um retrocesso em nossa práxis missionária, voltando a uma falsa dicotomia entre a proclamação pessoal do evangelho (expressa em um estilo de vida que leva muito a sério a dimensão da evangelização pessoal) e o resgate e cuidado do ser humano em todas a s suas necessidades (expresso em um estilo de missão marcado pela compaixão e pelo engajamento).

 

Estes são alguns dos desafios para as novas gerações missionárias.

 

Resenha do Livro Pacto de Lausanne, Série Lausanne 30 anos - Editor ABU

 

Fonte:  https://www.igrejamissionariabrasileira.org/e5.php